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sexta-feira, junho 25, 2010

Sentir



Abriu a porta da vida e deixou o vento entrar para brincar com seus cabelos, aquele inverno que sua pele arrepiada anunciava não fazia ela recuar diante das dificuldades e possíveis pedras no caminho que iria começar a trilhar.
- Sentir o vento nos ossos me faz lembrar que faço parte desse mundo e estou viva.
Caminhou até o quintal de pés descalços, um casaco simples por cima da camisola e um sorriso gigantesco em sua alma.
- Porque a alma também se excita quando sente-se feliz.
Todos os pequenos detalhes do seu quintal de concreto pareciam terrivelmente belos, de uma beleza simples que seus olhos, antes cegos pela dor, não conseguiam perceber.
- O mundo passa a fazer sentido quando encontramos motivos para sorrir.
Entrou dentro da casa e começou a separar as roupas que iria lavar. No meio de tantas outras encontrou a roupa que tinha usado na noite anterior.
- Seu cheiro... Queria ter mais dele em mim...
Quase desistiu de lavar aquela peça, sempre achou que os perfumes dos bons momentos deviam ser preservados como medalhas imaginárias obtidas por mérito.
- Besteira, enquanto eu puder (e quiser) me lembrar não há motivos para me apegar a pequenos detalhes.
Enquanto estendia as roupas já lavadas no varal, viu uma criança que brincava ao longe com alguns balões e pensou:
- Sinto que sou como aquela criança, tenho várias cores e possibilidades de ser feliz em mãos e pretendo segurar todas as cores com a mesma determinação de quem caminha com olhos bem abertos em direção ao sol.

Sentir é isso, uma infinidade de imagens e pensamentos simples que ultrapassam o frio de qualquer estação.

terça-feira, junho 22, 2010

Três Atos / Meu Recado

Foto Roubada por Leticia Brito
Primeiro Ato: (Ela entra no laboratório de informática e uma amiga lhe apresenta um moço de sorriso magnifico. Ela fica um pouco timida, mais inicia um diálogo rápido.)
- Você vai apresentar o que?
- Vou ler um cordel e você?
- Contarei uma história.
- Sua?
- Não, escrevo mais não vai ser nada meu dessa vez.
- E quando vou ler algo seu.
- Pode deixar que qualquer dia eu te mostro.
- Como nunca te vi antes por aqui?
- É porque nunca procurou na biblioteca. ( sorriso disfarçando a timidez)
(Rose Mary entra em cena.)
- Vamos, gente, estão nos esperando.
Segundo Ato: (Se encontram uma semana após a apresentação, iniciam entre si um flerte regado a versos escritos e palavras diretas que tinham apenas um objetivo: ressaltar o interesse)
- Olha, como eu te prometi um dos meus escritos.
- Vou ler, pode deixar
- Quero saber se vai responder
- Pode deixar que vou.
- SEI.
( Na hora da despedida ela rouba um beijo e vai embora, inicia-se, dai, uma especie de fuga. ela sempre correndo dele porque sentia-se atrevida, sempre saindo em cima da hora para não encontrar ele. Mas por fim se encontram)
-O que foi aquele beijo no outro dia?
- Vontade que me deu.
( Um dá risada para outro e, por fim, se beijam)
Terceiro Ato: ( Mal começaram a se interessar, as duvidas vieram na cabeça, se afastaram, terminaram, mais ainda continuaram a se falar, tornaram-se amigos, bons amigos que desejavam apenas o bem um do outro, acima das atrações primeiras, a amizade foi crescendo e permanecendo.)
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Meu Recado
Não gosto de ler teus recados e sentir que estas desanimado só porque, no momento, não estas em cima de um palco. Meu querido amigo, será que você ainda não percebeu que vivemos todos dentro de uma grande peça e que cada ato nosso, por mais superficial que pareça,compõe o roteiro da nossa vida?
Roubei de ti uma foto que não mostra teus olhos para que eles não apagassem minhas letras, mais quem te vê te aplaude e percebe que neles brilham a mais pura arte e o orgulho de viver em busca de seus sonhos.
Mesmo que por essa vida eu nunca mais te encontre, mesmo que tudo em nossas conversar não tenham passados de instantes, já valeu o ato de ter te conhecido, de ter parado e lhe escrito tantos versos sobre lençois imaginários e luares encantados.
Felicidades hoje e sempre, meu caro amigo, permaneço com meus livros na platéia a lhe aplaudir, desejando que na vida não sejas menos do que FELIZ.

sexta-feira, junho 18, 2010

Hoje

JUNHO/2010

Hoje acordei com um abraço da minha mãe que me tirava de um sonho bonito onde eu, ainda criança, brincava no jardim da casa da minha avó. Não me importei com o fato de ter esse sonho interrompido, afinal de contas, ele já foi vivido e um abraço materno sempre é bem vindo tanto em momentos tristes como tranquilos.
Em seguida recebi uma mensagem de um amigo querido que, brincando, me perguntava: "Envelhecendo ou ganhando experiência?" Sorri e de imediato pensei: VIVENDO.
Quando se encara a vida aceitando um dia de cada vez, não há porque se importar com o tempo que se passa. Afinal de contas, não podemos parar o tempo e ele não perdoa aqueles que tentam ignorar sua existência.
Como eu me sinto hoje? Diria a todos que feliz, tenho agora vinte e seis anos, um caminho pela metade e muita coisa ainda por fazer. A cresça nos meus sonhos não me dá espaço para preocupações com o espelho. sei que a cada dia torno-me uma pessoa diferente, mas isso não me afeta e nem me prende a minha vaidade, gosto de notar minhas mudanças, pois elas são os sinais de que a vida segue o seu curso natural.
Entre ontem (1986) e hoje (2010) apenas uma coisa nunca vai mudar, a cor dos meus olhos sempre vai guardar o mesmo brilho de encanto pela vida e eu ainda continuo construindo a minha estrada com as pedrinhas que encontro pelo meu caminho.

quinta-feira, junho 17, 2010

Ontem

JUNHO/1986
Ontem, enquanto eu brincava no jardim da minha avó, o mundo parecia mágico e vasto. Em cada folha eu podia ver um motivo para sorrir, observando os insetos me sentia grande, tão grande que era capaz de ir de um canto ao outro do mundo com um pequeno pulo.Deitava no chão com meus primos e ficava observando o céu, só para tentar enxergar os desenhos que as nuvens brincando faziam para mim.
Correr por entre as florestas e mundos imaginários em busca de novas e emocionantes aventuras... eu era toda coragem e delicadeza e não esperava da vida mais do que ela podia me dar.
A casa da minha avó cheirava a doce e amor, ali dentro daquele castelo encantadoramente simples meu sorriso nunca se apagava, eu era a princesa coroada e meu reino era composto por uma grande janela com vista para o jardim e o portão de entrada que em todas as tardes me entregava de volta as pessoas que eu mais amava que voltavam, cansados, do trabalho.
Ontem tudo era beleza e encanto e aos poucos eu ia construindo o meu caminho com as bonitas pedrinhas que eu encontrava no jardim do meu reino.

quarta-feira, junho 16, 2010

Olhar

Ituaçu-Bahia 2008


Acho que se tem uma verdade por trás do meu olhar, essa se esconde no fato de eu conseguir enxergar a beleza nas coisas mais simples da vida. Nunca fui o tipo de pessoa que se encanta com coisas complicadas, por achar que de complexa basta nossa própria existência e o nosso caminhar,
Sempre que me sinto perdida tenho a mania de caminhar sozinha, procuro o lugar mais esmo possivel e me perco no exercicio de observar os pequenos detalhes que posso encontrar ao meu redor. Por vezes uma flor me ganha e muda meu dia, em outros uma criança que passa e sorri, ou até mesmo uma chuva inesperada pode me alegrar, pois chuva para mim é mudança e não existe elemento na natureza tão rico para nos fortalecer e trazer esperanças.
Em alguns momentos da minha vida, paro e fotografo o que meus olhos conseguem encontrar, não me importo com angulos ou se vou agradar, so gosto de expor e tentar saber se em algum parte alguém vai olhar e compreender o que aquela foto naquele momento quis dizer.
Sou uma pessoa simples, nisso nunca vou mudar, e por mais que o dom da observação me torne alguém um tanto calada, não me importo em continuar a ser assim, pois aqui dentro de mim sinto que minha essência é simples e meu caminho é bonito por ser cheio de pequenas paisagens e adjetivos que vou anotando no livro dos meus dias que contam a história da minha vida.

terça-feira, junho 15, 2010

Felicidade Clandestina


Quando a gente se acostuma a ser sozinha, qualquer felicidade clandestina parece bastante para preencher nossa vida. E eu sou esse momento, a parceira que acompanha até o fim e depois lhe deixa partir pronto para viver um grande amor.De sexo a filosofia, de musica a poesia, sou capaz de falar de tudo para te agradar e de fazer tudo por você sem a errônea esperança de que você vá fazer algo por mim. Nunca espero nada de quem não pode me oferecer nada.
Posso lhe afirmar que nem sempre eu fui assim, como qualquer garota já tive meus sonhos românticos, contudo quando lhe roubam a pureza de seus atos, tudo passa a ser mais complicado, homens se tornam mostros e seu melhor esconderijo passa a ser dentro de si, na sua redoma de vidro invisivel...rsrs... Gosto da visão de uma redoma de vidro, pois me faz imaginar todos os homens que falsamente passaram pela minha vida sem nunca conseguir me tocar, afinal, tudo o que viam em mim era o corpo, tudo o que sentiam em mim era o desejo, nunca ninguém conseguiu enxergar a essência por trás da matéria e do sorriso sempre aberto.
Tolos, como são tolos os homens que nunca se esqueceram de mim...
Como confiar em olhos que nem ao menos se decidem pela própria cor?
Simples, não confie, e faça como todos, viva o seu momento e vá embora, pois minha vida se resumiu a isso até agora, porque querer fazer diferente?
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Ao analisar o que escrevia, percebeu o quanto sua vida parecia vazia, tantos homens e desde a primeira paixão e dor, apenas um unico e grande amor.
- Pena que quando eu descobri que te amava não suportei meu sentimento e fiz de tudo para você me deixar. Ainda bem que consegui... Porque a gente não consegue suportar bem a verdade quando se escolheu viver pelo erro.
As unicas lembranças que levava de seus relacionamentos sérios eram: uma lingerie, um anel barato de brilho falso e um pingente de coração vazio que durante anos havia carregado dentro de si um minusculo papel com um pequeno desejo escrito, um pedido tão bonito que se dissolveu com o tempo e foi morar noutro lugar.
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Alguns anos depois, após muito refletir, decidiu que pararia por ali, não aceitaria nada além do amor verdadeiro. Havia se cansado de ser desejada, agora querida experimentar a sensação de ser verdadeiramente amada como merecia. Parou de se culpar por tudo de ruim que havia lhe acontecido na vida e decidiu que dessa vez iria crescer, não por ninguém, mais por si e que não mais viveria felicidades clandestinas, pois ela mais que ninguém merecia realmente de ser feliz.

segunda-feira, junho 14, 2010

Pureza


"No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho".
Carlos Drummond Andrade
E no meio de tanta pedra e solidão encontrei o teu sorriso...
Não é sempre que na vida se encontra alguém disposto a lhe ajudar sem qualquer motivo existente, sem nenhum interesse.
Sabe, amiga, vivemos em uma cidade dura, onde sorrisos são ensaiados e passos são dados apenas na direção de quem pode lhe prestar um favor. Não confie tanto nas pessoas, pois elas não confiam nem em si mesmas.
Vivendo sonhos parecidos nos conhecemos, você me acolheu quando eu me sentia perdida e eu lhe estendi a mão quando as mascaras começaram a cair e a solidão te feriu. Entre papos e trabalhos, lágrimas e abraços, conseguimos encontrar uma na outra o que tanto procuravamos: a amizade sincera.
Nessa estrada chamada vida tenho orgulho de ter lhe encontrado no meu caminho, na pureza do teu sorriso uma presença para a vida inteira. Mesmo distante sempre vou caminhar ao seu lado em todos os momento dificeis aqui eu estarei pronta para socorrer você e entre versos cantados podemos sempre ter a certeza de que essa amizade que começou com um terno abraço vai sempre ter o valor delicado da jóia rara encontrada em meio ao asfalto.

Livros

13 de junho de 2010
Quando eu era criança me lembro que uma amiga do meu pai que fazia faculdade e odiava ler, sempre mandava para a nossa casa caixas repletas de livros. Quando meu pai, curioso perguntava o porque de tal doação ela sempre respondia:
- Vai que um dia seus filhos precisem de algum desses livros, nunca se sabe.
Realmente, quando falamos da vida nunca sabemos onde vamos chegar. Hoje eu e meu irmão já somos formados no ensino superiror e minha irmã esta quase se formando no curso de jornalismo. Na história de nossas vidas, os livros sempre tiveram grandes capítulos. Lembrar das histórias de Monteiro Lobato, Pedro Bandeira, entre outros, sempre vai despertar em todos nos a lembrança de uma infância regada a leituras e viagens por mundos imaginários.
Se temos lembranças iguais, o que, por fim me faz diferente de meus irmãos?
Resposta simples, sempre fui uma pessoa de poucos amigos e muitos livros e fui eu a primeira que se aventurou a desvendar os mistérios daquelas velhas caixas que passaram a ser minhas melhores amigas em muitas horas de minha vida.
Literatura,teologia, filosofia, sociologia, não me importava o tema, eu lia cada livro como se todos tivessem algum segredo muito importante a me contar. É certo que muitos eu nem mesmo entendia, mais isso não me fazia recuar, com doze anos lia Dalton Trevisan, Madame Bovary e qualquer texto que me indicassem.
As dificuldades de linguagem me faziam querer mais que tudo compreender, para mim não existia leitura dificil ou inadequada para idade, tudo o que caia nas minhas mãos permanecia nelas até que eu finalmente pudesse compreender. Com quinze anos decidi que depois de tanto ler eu iria escrever, mais não aquelas redações que agradavam minhas professoras, mais sim as histórias que povoavam meu ser imaginário. Nascia assim mais uma escritora-amadora e amiga das palavras que dentro de caixas encontrou o inicio de um belo caminho.
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Meu pai limpando a estante do meu quarto me perguntou:
- Filha, você já leu esse livro todo?
- Sim, pai.
- Mesmo
- Mesmo, todos esses que estão ai, só os dois da frente que não.
- Você não se cansa?
- Não, pai, sempre vai existir alguma coisa interessante para se descobrir dentro dos livros.
Guardando os livros pensava: Em cada página uma história, uma companhia, em cada palavra roubada desses livros a história da minha vida.

sábado, junho 12, 2010

Ternura

A menina do espelho... A garota das palavras... A mulher aprisionada pelo medo de amar...
Tudo em mim é um vendaval, tanta complexidade a mim atribuida, me pergunte quem eu sou que eu lhe reponderei:
- Uma menina.
Nessa vida nunca passaremos de crianças adormecidas em corpos amadurecidos pelo tempo.
Tantos já me olharam, mas quantos já me viram?
Ser mulher é ter o melhor e o pior da flor: Beleza e espinhos.
Por tanto tempo busquei nessa vida, uma presença que pudesse me fazer suportar, o peso do passar dos dias, alguém que pudesse aguentar o tamanho do sentimento que tenho guardado em mim. Contudo, todos os olhares que já conheci foram apenas simples desejo, no final sempre me via sozinha, me acostumei a ser sozinha mesmo em companhia.
Mas como a vida não é sem graça e tem mania de nos dar esperança, um dia encontrei num novo olhar um tanto de ternura. Primeiro sintoma: insegurança, nunca consegui lidar com verdades que não me pertenciam, tão acostumada estava as mentiras que sempre me cercaram.
Com o passar dos dias e seus atos, minha insegurança se foi com o vento, agora tudo o que sinto é paz e uma clandestina alegria de quem nessa vida não precisa mais procurar, pois em teus olhos consegui encontrar aquilo que tanto buscava.
OBRIGADA POR ENTRAR NA MINHA VIDA.

sexta-feira, junho 11, 2010

Presentes


Um dos momentos mais doces que vivo atualmente são as voltas da escola com o meu filho, quase sempre comemos algodão doce que um senhor muito simpático vende no portão. Esse senhor lembra muito meu avô e compartilhar esse momento com o meu filho é o mesmo que voltar a ser criança para acompanhar seus pequenos passos em igualdade.
O fato é que meu filho sempre me presenteia com algum presente inusitado, quando não são os anéis que vem no algodão doce, ele me trás do parque uma folha de árvore, ou mesmo uma pedra que ele acha e guarda para mim. Todos esses presentes inusitados me fazem sorrir e nunca passou pela minha cabeça a idéia de não aceitar.
No inicio dessa semana, quando estavamos voltando para a casa não encontramos o tio do algodão doce, menos um presente; andando mais a frente não encontramos nenhuma folha bonita jogada no chão (meu filho se recusa a arrancar das árvores para não machucar elas), menos dois presentes; andando um pouco mais a frente, quase na avenida ele finalmente encontrou a pedra que procurava, ficou muito feliz com isso, abaixou, pegou ela nas mãos e me deu.
- Filho, por que todo dia você me dá uma pedra de presente.
- Porque eu te amo muito, mãe.
- Eu também te amo muito, Nick.
Sorri para ele, lhe dei um beijo e caminhando pensava: Se em cada coisa simples ele encontra o amor, como posso eu não admirar meus presentes de todos os dias?
Nosso amor é como uma torre de pedras, tem a doçura do açucar e a leveza das folhas. meu filhote de poesia nunca me decepciona e eu sou grata ao destino por ter me dado o maravilhoso dom de ser responsável por uma vida tão pura e bonita.
Meu filho sempre será a melhor parte de mim, com vestigios do amor mais puro que já senti.

quinta-feira, junho 10, 2010

Revisitando


Não gosto de falar do tempo passado ou mesmo ficar revivendo situações, contudo, contrariando minha própria filosofia, por esses dias revisitei meu passado.Arrumando a bagunça do meu quarto encontrei escritos meus datados de 2000, por puro prazer e nostalgia comecei a ler alguns, claro que a faxina terminou por ali, mas algo melhor havia se iniciado: a avaliação do meu concreto crescimento.

Acho engraçado pensar que algumas pessoas julgam que possuo um dom para criar histórias,mal sabem elas as besteiras que já pensei e os absurdos que já criei até escreer algo que merecia ser lido e publicado. Além, é claro, dos meus eternos problemas gramaticais e de concordância, não concordo nem comigo mesma, por vezes. O grande fato é que nada nos é dado, tudo tem de ser adquirido e quando se escreve com comprometimento e paixão, criticar-se faz parte do processo criativo.

Lembro que quando menina eu era uma grande mentirosa, inventava cada história e minha mãe só fazia brigar e rezar para que eu fosse mais verdadeira. No terceiro ano, parei de mentir e comecei a criar histórias que impressionavam minha professora, mas nunca consegui gostar de nenhuma. Passei por muitos professores, por muita solidão e auto-critica. Da poesia fui para a prosa sem nunca deixar de ser poética. Hoje relendo tudo o que escrevi e guardei dou muita rusade de mim mesma, não uma risada desesperada, antes o sorriso puro de quem nunca desistiu do seu sonho de aprender a escrever.

Entre três cadernos de rascunho que ficam espalhados pelo quarto, um fichário de poesias, três cadernos completamente lotados de escritos, uma porção de textos escritos na minha velha máquina de escrever e rascunhos em pedaços de papéis espalhados pelos cantos, vejo minha imagem que é mais nítida do que a que o espelho me mostra. Sinto orgulho de ser quem sou, de ser como sou e em meio a minha solidão criativa, organizo todos os meus papéis jogados, como quem arruma pessoas queridas para um grande retrato de familia.

terça-feira, junho 08, 2010

Letra e Musica


- Por que você escreve?


- E por que você canta?


Eram de fato diferentes, mas a arte e o sangue sempre davam voltas, entravam por diferentes portas e iam sempre parar no mesmo lugar: na artéria do mesmo coração materno.
O que significava para os dois ser irmãos?
Em ambos uma forte noção de família que os unia mesmo quando os atos e caminhos tornavam-se diferentes.
Uma relação de proximidade a distância, um aconselhar sem questionar, um brigar por querer bem, uma adimiração mutua e sincera de quem não inveja apenas ama com sinceridade.
Como toda boa música, somavam suas diferenças, ela usava seu dom com as letras e ele compunha as mais belas melodias e entre notas e rimas eram o que tinham que ser: Música composta pelo mesmo amor.
- Canto porque isso faz bem ao meu coração. Creio que é no som que me encontro e onde posso me perder.
- Escrevo para conseguir dizer tudo o que não tenho coragem de falar, essa é minha benção e minha fuga.

Ao meu irmão, Eder Brito. Sincera homenagem de quem torce por teu sucesso, sempre.

quarta-feira, junho 02, 2010

Desconhecido

Definitivamente aquilo não era amor, era apenas a ausência do frio que tomava conta de seu corpo toda vez que tinha ao seu lado o corpo de um outro alguém.
Laura descobriu essa terrivel verdade quando, no meio da noite, levantou para ir até o banheiro. Amaldiçoou aquela corrente de ar ingrata que tinha a coragem de lhe trazer a verdade aquela hora da noite, em meio a sua lua de mel.
Correu ao banheiro e, mesmo sentindo frio, permaneceu sentada olhando para o chão como quem procura uma saída por entre os espaços no chão. Tudo o que conseguiu com isso foi ficar com mais frio e com uma pitada de pânico em sua mente.
- O que fiz da minha vida? O que devo fazer agora que sei?
A exaustão do dia lhe tomava o corpo e a necessidade de voltar para cama e se aquecer era grande, por isso, mesmo sem respostas para suas questões, ela voltou para o quarto. Quando estava se preparando para deitar, Laura sentiu uma dor de cabeça tão grande que tudo o que pode fazer foi gritar e logo em seguida desmaiou.
Acordou sentindo frio, num quarto de hospital, olhou para o teto e perguntou:
- Onde estou?
- Que bom que você acordou, meu amor.
Confusa, a mulher olhou para o homem e perguntou:
- Quem sou eu?
Ao ouvir tal pergunta, tudo o que seu parceiro pode fazer foi sentar ao seu lado, olhar ela nos olhos e chorar. Alguma coisa naquele olhar lhe deu segurança, por isso Laura sorriu e parou de perguntar, apenas enxugou as lágrimas de seu marido e disse:
- Me abraça.
- Claro, Laura
E foi assim que pela primeira vez na vida, ela realmente sentiu em si o amor.