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sexta-feira, janeiro 29, 2010

As Cartas


Todos os dias, as três horas em ponto, sei que o carteiro vai passar, consigo ouvir o barulho dele colocando a mão dentro da caixa de correio. Todos os dias eu corro até a caixa do correio e espero que algo chegue para mim, mas nunca chega nada.
Adquiri esse hábito aos 10 anos quando eu trocava cartas com amigas que fiz em uma viagem a Bahia, o tempo foi passando, a distância entre nossos interesses aumentando, até que um dia as cartas pararam de chegar.
Quando eu tinha 15 anos tive meu primeiro namorado, fiz questão de arranjar um namorado que morava longe, só para poder esperar por suas cartas de amor. Em um ano recebi apenas três cartas enquanto eu todos os dias escrevia e todos os dias esperava as respostas que não vinham.
Entre esses dois eventos recebi correspondências casuais,mas o fato é que eu nunca deixei de esperar e hoje, passado tanto tempo nem eu mesma sei o que eu espero encontrar.
Não sou mais a menina de 10 anos, não sou a de 15, nem a mulher de um segundo atrás. Mesmo assim eu espero, todos os dias as cartas que nunca vou receber. Talvez seja esse o meu elo com o passado que eu já vivi e com o futuro que vira: a esperança de uma palavra amiga num pedaço de papel.

Não deixa de ser poético e belo, mais ainda são simples as coisas que me fazem feliz.
Qualquer dia desses escreva para mim, prometo que vou te responder.



sábado, janeiro 23, 2010

O Hoje

Não existe forma de se libertar quando se esta preso dentro de si mesmo, dando voltas por corredores intermináveis que só nos guiam ao mesmo ponto de onde partimos. Mudar é terrivelmente doloroso, mas tão necessário quanto se alimentar para continuar a viver.
Ontem eu era uma pessoa, hoje pela manhã quando me olhei no espelho já não era mais a mesma. E todos os meus dias são sempre iguais sendo sempre diferentes, a unica coisa que nos uni é o tamanha da nossa solidão. Transformamos constantemente a nossa solidão em sentimentos mais agradáveis, por isso alguns amam com tamanha intensidade, esperando que todo bom sentimento supra aquele incomodo noturno que nos aperta o coração quando pensamos estar sós, contudo a solidão completa não existe, não devemos teme-la, por mais sozinho que possamos parecer sempre teremos nossos pensamentos e os barulhos noturnos, tanto os de fora como os de dentro de nós.
Seguir uma trilha é algo relativamente fácil, dificil é ter a força de abrir a porta do seu mundo para deixar outro pedaço de solidão entrar dando sentido a todas as paredes vazias e lugares obscuros de seu cômodo.
Receber uma carta, ler um email, conversar por internet, sorrir para um desconhecido, abraçar um filho, dar um beijo, transar, ouvir musica, escrever, ler, tudo isso é aceitar um pouco da solidão alheia e necessária, tudo isso é viver dando sentido a vida.
Apegue-se ao passado que nunca terás futuro, pense somente no futuro que nunca viverá o presente, nunca vai sentir o gosto agridoce da vida se escolher o caminho do apego ao que não tem valor.
Nunca fui capaz de esquecer o sorriso de um garoto que vi de dentro de um ônibus, bem como nunca esqueci dos braços de um poeta que dormiu ao meu lado me abraçando sem me possuir. Todos foram instantes de solidão que aceitei e vivi, contudo já vivi, o gosto me foi doce, hoje são recordações, já não importam mais.
O Hoje é o meu dia preferido, o agora é o meu instante e a consciência de que sou eu, apenas eu, a responsável por minha vida é o que me torna forte para seguir em frente sem temer o futuro, sem lamentar o passado. Se sou eu quem dou meus passos devo saber para onde eu devo caminhar.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Sujeito Estranho / Meu Estranho

Era um menino estranho, um homem tamanho
Sabia pegar e mais
Era como se a força, como se um redemoinho
Puxasse mais
Era como se a lua que eu trago nos dedos
nos puxasse mais e mais
Era como se não tivesse sido jamais

Oswaldo Montenegro

MEU ESTRANHO

Abriu a porta da frente e saiu andando em meio a chuva, não sabia muito bem por onde caminhar, mais andava com uma determinação nunca antes vista em seus olhos. Visto de longe era um menino confuso, seus passos pareciam ser maiores que suas pernas, mesmo assim ele andava, sem elegância alguma, mais com um caminho enorme pela frente.
Andou durante horas, durante dias, durante anos, até que a chuva de seu interior por um momento parou e ele conseguiu voltar para casa.
Tudo naquelas paredes eram exatamente iguais, nada havia mudado, nada parecia mudar nunca, eram suas paredes de sempre.
Ao se olhar no espelho viu não somente um homem molhado de água salgada, ele viu seus olhos, aqueles que havia esquecido que tinha e isso o tornou diferente e estranho para si mesmo. Tornou-se um homem do tamanho de seus sonhos e foi pela estrada da vida tentar transformar suas tópias em utópias.

Meu estranho, a ti meu eterno carinho e a aposta mais sincera e doce de que um dia você vai parar e encontrar o que tanto procura.


quinta-feira, janeiro 14, 2010

Adeus, Zilda


Quando,em dezembro de 2005, eu descobri que estava grávida a primeira reação que tive foi a de chorar, a idéia de ser mãe não passava pela minha cabeça e eu vivia em meio a um romance onde eu tentava aproveitar os dias bons por saber que tudo teria um fim rápido. Minha família me apoiava mais tudo o que eu via quando olhava para a cara deles era decepção, no rosto do meu companheiro de então uma prisão, como eu iria enfrentar essa situação se tudo parecia tão confuso, como eu poderia ser mãe?

Foi nesse momento que tentei me lembrar das coisas que havia aprendido nas reuniões de formação de voluntários da Pastoral da criança, que eram mais do que lições de higiene básica e saúde, antes disso eram também lições de comportamento que mudavam a nossa visão do que era ter a responsabilidade de uma vida em mãos. Mesmo tendo uma gravidez conturbada, eu acabei ficando feliz com a situação, tanto que muitos julgaram que eu havia planejado quando tudo o que eu queria era transmitir para o meu filho a sensação de que ele era muito bem vindo, por isso, mesmo quando a vontade era desistir de dar vida ou chorar, eu mantinha a calma e conversava com ele, dizia sempre que ele era muito bem vindo e que eu estava esperando ansiosa por ele. Quando meu filho nasceu e olhei nos olhos dele eu tive a certeza de que seriamos agora dois no mundo e que eu não desistiria dele nem que acontecesse algo muito ruim em nossas vidas, prometi a mim desde aquele primeiro olhar que eu, mesmo inicialmente não querendo ou aceitando, seria mãe da melhor forma que pudesse ser. Graças a todas as lições que tive na Pastoral, não cometi nenhum erro muito grave com o meu filho e consegui criar uma criança saudável e feliz. Agora meu filho tem 3 anos e se tornou uma criança saudável e feliz, e mesmo que enfrentemos problemas, sei que juntos somos felizes e tenho em mim a certeza de que sempre seremos.

Quando fiquei sabendo da morte da Doutora Zilda Arns através do jornal não tive outra reação que não fosse a de chorar por tudo que ela, indiretamente, representou para mim quando eu soube que seria mãe. Certas pessoas como essa senhora deveriam ser eternas pela capacidade que elas possuem de mudar as vidas das pessoas mesmo ao longe. Demagogia a parte, pois de sua história e importância social todos sabem, é com pesar que escrevo e agradeço a quem, através da Pastoral da Criança, me ensinou que é possível gerar vida saudável e feliz mesmo quando a situação diz o contrário. Esteja onde estiver, obrigado por ter existido em minha vida, de ti guardo o sorriso terno que vi somente uma vez ao longe, mas que me ensinou a olhar nos olhos das crianças.

terça-feira, janeiro 12, 2010

O Tempo que não nos Pertence


Olhar fundo nos olhos de um filho após seu nascimento é um dos momentos mais belos que pode acontecer na vida de uma pessoa. Nesses segundos, que parecem durar uma eternidade, nossa única vontade é a de aconchegar, abraçar o frágil corpo para que ele sinta todo o nosso calor, nosso cheiro e possa saber que mesmo quando ele estiver no mundo dos sonhos estaremos observando seu sono. Amamos nossos filhos com tanta intensidade que acabamos fazendo milhares de planos por eles enquanto são pequenos, planejamos seu futuro, sua carreira, personalidade. Idealizamos tanto nossos filhos que acabamos criando dois: um em nossa mente e o outro verdadeiro que pouco conhecemos e não desejamos (por medo) conhecer.

- Meu filho vai seguir meus passos.

-Minha filha vai ser a mais bela.

- O melhor de todos em tudo.

Acabamos esquecendo que esse tempo não nos pertence e de que os passos devem ser protegidos, nunca guiados. Todo ser humano tem que traçar o próprio caminho, seja ele longo ou curto, claro ou escuro, não importa, todos tem o direito de escolher o caminho a seguir rumo a um futuro e vida que não pertence a nós, mas que ajudamos a criar. Nossos filhos sempre serão a melhor parte de nós, pois eles são os seres feitos para nos questionar, nos fazer lutar dando um objetivo para seguirmos em frente e amar. Crescemos a cada ano com eles para nós nunca nos esquecermos de que crescer é cumprido e um dia morreremos como meninos.

sábado, janeiro 02, 2010

A Dança


Enquanto o mundo gira seu coração balança, vai de um lado ao outro em busca de direção.
- Eu sempre sonhei em dançar, por que Deus tinha que me dar essas pernas tortas?
Mesmo com pensamentos negativos não chora, conserva a postura da balairana que esta prestes a apresentar um solo, espera sentada nos bastidores a hora em que vão chamar por seu nome e ela seguira em direção ao palco.
- Você já esteve em cima de um palco? Sabe qual é a sensação de sentir os olhos do publico te olhando enquanto você se guia pelo som da musica ?
-Todos deviam subir em cima de um palco algum dia, só assim iriam compreender qual é a essência que guia um artista, o que faz dele um mágico capaz de encantar multidões com um simples gesto.
Seus pensamentos eram belos, contudo seus movimentos eram nulos, ela permanecia nos bastidores belamente enfeitada como se a qualquer momento fosse entrar em cena, contudo ela não tinha postura, nem beleza, nem nada, simplesmente conservava na alma a memória do artista que teima em não esquecer como é viver um belo sonho.
- Um dia eu volto a dançar...
E perdida em sua mente imaginava-se a dançar com as expressões e gestos mais belos que já teve, enquanto alguém, nos bastidores a admirava e pacientemente esperava o trecho da musica que anunciaria uma bela entrada na cena de sua vida.