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terça-feira, agosto 26, 2014

Primeiro Ano

Foto: Cecília Camargo

Hoje acordei com vontade de celebrar, afinal, há um ano atrás, nos casamos pela vontade dos nossos corações, pois essa é a união mais importante antes dos homens ou qualquer Deus em que se possa crer.
Ganhava um novo filho, casa, obrigações, rotina, vida.
Hoje tenho um casa modesta onde posso guardar e dividir meus livros, um quarto pequeno de espaço e repleto de amor, brinquedos espalhados por todos os cômodos, filmes que nos fazem querer passar a tarde abraçados no sofá.
Tenho companhia para tomar um bom chá, e por mais pesado que seja o dia e nossas rotinas, a noite sempre a mesma declaração de amor é dita ao pé do ouvido e a tua presença ao meu lado que salva m,alma da solidão noturna a qual estava acostumada.
Da minha janela consigo ver o pôr do sol mais lindo e por todas as tarde, enquanto vejo a noite chegar em mim mora  a mesma certeza de que se um dia tivesse que escolher uma nova companhia, por mil vezes escolheria você.
Com você me caso quantas vezes for preciso, no cartório ou na igreja, não importa se celebrada em português, klingon ou mando'a. A certeza é que não me canso de te amar e de declarar ao mundo que ao seu lado sou uma pessoa muito melhor. Pois minha vida começou a existir desde o dia em que, timido, você se despediu de mim no meu portão, deixando um pequeno presente, levando consigo meu coração.

" ...juntos, eu e você , criaremos guerreiros", que serão fortes, pois serão criados sabendo o que é o amor.

quinta-feira, agosto 21, 2014

Vermelho Amor

"...Me disseram que sonhar,Era ingênuo, e daí?

Nossa geração não quer sonhar,Pois que sonhe a que há de vir..."

Travessuras - Oswaldo Montenegro


Sentada com um semblante triste, olhava para ele com ar de menina perdida, pedia colo para os seus sentimentos, enquanto admirava o rosto masculino que sempre lhe trazia calma. Encarrou-o por algumas horas e não aguentando mais o silêncio daquele fim de tarde  começou a falar:
- O que aconteceu conosco? Nosso sonho não podia terminar assim... Lembro do dia em que te conheci, eramos jovens e tinhamos a ambição de mudar o mundo, torna-lo um lugar melhor para se viver. Você me ensinou a acreditar em um mundo de igualdade, onde os homens seriam todos irmãos e as crianças poderiam brincar sem medo na rua, curtindo um mundo de paz e igualdade.
Mas a vida não nos queria iguais, todos questionadores começaram a desaparecer sem deixar pistas ou palavras, e foi assim, aos dezoito anos, num tempo de silêncio, que me entreguei a você me fazendo mulher, uma mulher com o desejo de ser livre, presa apenas pelo belo sentimento que nos unia. Apanhei do meu pai fui expulsa de casa, tida como rameira perdida, agora só tinha na minha vida você e o silêncio que tanto queria nos calar. Começamos a pensa no futuro, eramos fortes para lutar pelas novas gerações, tínhamos em nós a força do novo e o desejo de igualdade.
Foi esse desejo que nos levou, naquela tarde, a cantar nas ruas de mãos dadas e peito aberto, eramos um grupo de jovens bonitos e otimistas, até que conhecemos a dura voz do silêncio que partiu com rispidez do rifle do guarda e foi parar no peito de Lilian, mulher forte, que lutava pelo futuro que carregava em seu ventre e agora jazia no chão com o futuro perdido na cor vermelha. Seu marido Carlos foi preso e levado ao DOPs, nunca mais soubemos dele, nem de suas poesias e de seus sonhos por liberdade. Seu fantasma deve vagar até hoje dentro das casas dos militares que violentaram seu futuro, mas como hoje estão velhos, fingem que seu espectro é uma corrente fria e fecham suas santas janelas protegendo-se de um reumatismo de caráter...
Foi por isso que, naquele dia, decidimos que nunca teriamos filhos, não tivemos nunca a coragem insana de nossos amigos que treinavam seus pequenos para as guerrinhas. Escolhemos lutar pelo novo, sem deixar o novo vir por intermédio da nossa união. Nossos herdeiros seriam todos os jovens do futuro que teriam uma vida de liberdade para gozar no futuro.
Não me arrependo das minhas lutas e escolhas, mas como gostaria, só por hoje, de ter ao meu lado um alguém que tivesse o teu sorriso, onde eu reconhecesse um pouco de você, para não me sentir tão sozinha quanto me sinto agora. Isso não é uma reclamação, meu caro companheiro, camarada, irmão.... Ao teu lado sempre fui feliz, mas dentre todas as batalhas pelas quais lutei, essa é uma para a qual eu não estava preparada, ficar sem você.
Sentiu uma mão em seu ombro, era o coveiro que lhe falava: - Posso fechar o caixão?
Ela apenas acenou com a cabeça, o homem lacrou o caixão e, ao abrir a porta da sala do velório, ela viu uma multidão de pessoas, alguns rostos conhecidos, outros muito jovens, mas que carregavam expressões conhecidas. Todos aplaudiam o casal com grande emoção passavam o caixão de mão em mão. Tantas pessoas ajudaram Rodrigo a chegar até sua cova de descanso eterno e foi nesse momento que Lidia, sua eterna companheira teve uma certeza, o mundo podia não ter mudado do jeito que eles queriam, mas valeu a pena lutar, mesmo que muitos ainda não compreendam a força desse sonho agora essa geração podia, por fim, sonhar.