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domingo, novembro 29, 2009

Distante

Um ano havia se passado desde a última vez que entrou naquele espaço, ela não sabia o porquê tinha chegado até ali e mesmo assim continuou parada olhando fixamente para o portão de entrada do local. Suspirou profundamente, olhou para os próprios pés, depois para frente e resolveu entrar no local. O espaço era bonito, mesmo com chuva era belo, talvez a única coisa estranha na paisagem fosse a garota que caminhava sem guarda-chuva e sozinha. Quem iria notar figura tão solitária? Talvez somente o guarda que sozinho vigiava a água a cair no chão, mesmo assim não a questionou e a garota prosseguiu em sua missão.

Chegou ao local no qual por um ano inteiro não conseguia retornar, sentou-se mesmo na água, olhou ao redor e de repente: NADA...

- Como assim, nada? O que aconteceu comigo? Eu estava pronta para chorar, mas tudo o que eu sinto é nada?

Fechou os olhos para enxergar lá dentro algum vestígio de tudo, contudo nada acontecia, parecia que por fim tudo corria como a água que caia do céu em seu corpo.

- Quase chegar a algum lugar para mim nunca foi nada, deve ser por isso que tudo o que eu consigo sentir são os pingos de chuva em mim.

Retirou do bolso um papel onde havia escrito algumas palavras, leu suas letras, deu risada, dobrou o papel o colocou bem naquele canto, no meio da água, onde havia se sentado um ano atrás. Nele suas ultimas palavras direcionadas a ele que nunca vai ler ou mesmo saber o que ela lhe desejou, talvez tenha sido NADA, assim como nada foi a sua rasteira passagem em meio a vida dele, pois como tu, eu também fui um inseto.

Gritou sozinha novamente, mais dessa vez o grito não foi de dor, antes foi de alegria por saber que a partir de agora tudo seria nada e que toda dor que sentiu nunca mais iria penetrar em seu ser, pois ela tinha passado pela experiência do parto e da mutilação que é se desfazer de um ser que pertencia anteriormente somente a ela, não por ser parte de sua carne, antes por ser parte dos seus desejos personificados em uma imagem.

Levantou-se e começou a se despedir do local, sabendo que agora era hora de reescrever mais

uma trilha, mais um capitulo de sua vida sem presença nenhuma que fizesse ela sentir que era menos do que podia ser. Saiu do parque sabendo que naquele dia havia subiu mais um degrau rumo ao topo de sua vida e, por Deus, dessa vez sem sofrer, dessa vez, e pra sempre, sem você que agora está distante dela e de sua vida.


27/11/2009 Leticia Brito

sexta-feira, novembro 20, 2009

Dificil

Ouvir a chuva enquanto são teus os braços que te envolvem, sentir vontade de chorar sem ter alguém que possa passar as mãos em teus olhos e dizer:
- Tudo bem.
Num mundo repleto de moralistas imorais que sentem vergonha daquilo que são, bem como dos seus desejos mais intimos, sinto como se eu fosse uma das ultimas pessoas que tem a coragem de gritar: Eu sinto, eu desejo, eu quero.
Dificil é trabalhar enquanto tenho que educar tantas crianças e um filho, é pensar em dinheiro e replanejar meus sonhos a todo momento e tudo sempre por dinheiro. É ter que manter sempre a aparência bela e calma, é encarar todos os finais de semana seus piores momentos e tudo com um sorriso no rosto e toda a serenidade no bolso.


Dificil não é encontrar alguém, dificil é alguém me encontrar, pois por essa semana estou perdida dentro do que restou de mim.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Sobre o Futuro

"- Mais você sabe o que você quer para o seu futuro?"

- Sim, eu sei

Por muito tempo eu apenas vivi sem esperar grandes coisas da vida, minha filosofia era aproveitar o momento, pois o futuro sempre me pareceu incerto demais e eu não queria a frustação do choro e da decepção.
Mais algo me fez crescer e alcançar uma maturidade que eu jurava não ser capaz para mim: Ser mãe.
Quando dei a luz encarei a morte duas vezes nos olhos, primeiro me despedi da parte mais bonita que havia em mim e em seguida me despedi da menina que mesmo madura não queria crescer. Num segundo me vi mulher e agora fazer planos era urgente.
Passei pelo plano A.B,D, E... N(não deu certo), perdi o chão, senti dor, levantei, enxuguei os olhos e reconstrui meu caminho. Hoje sei o que quero, o que mereço, o que espero, tornei-me um pouco dura, mais ainda conservo um toque de serenidade para me lembrar que sou humana.
A educação, meu caminho de vocação, estudos uma necessidade quase vital (mesmo que eu precise replanejar meus passos),escrever o que me alivia, ser mãe: o que deu sentido a minha vida. Companhia é tudo que procuro e espero de um homem, não me ofereça teu dinheiro, tua opressão, teu machismo, apenas fique ao meu lado e cresça comigo e assim, passo a passo, construiremos uma vida magnifica, real e linda.

Meu sonho nunca foi voar, antes disso é mostrar ao mundo que minha existência não é banal e que se eu tive um ponto de partida, sei o que desejo como ponto final.

terça-feira, novembro 03, 2009

STOP

Para, para tudo. Deixa eu respirar, deixa eu entenDER, deixa eu ACEITAR.

Dói tanto quando temos que adiar um sonho, ainda mais sabendo que este não era um sonho tolo, mais sim um sonho possível. Não sou dada a voar, meus pés sempre estiveram e permanecem no chão.

Porque eu tenho que pertencer a um mundo de espera? A uma classe que espera sempre que sua vez chegue? Mais nunca chega, sempre demora, sempre passa... E aquela oportunidade se foi, assim como quase tudo passa sem se concretizar. Quase nunca vai me bastar.

Só por hoje quero parar e admirar a lua, olhar para o céu tendo a certeza de que minha força é maior que essa vontade de chorar e de se revoltar. Enquanto o meu lugar na fila não chega, observo a lua e continuo a escrever, poie esse dom jamais nenhum sistema ira me roubar.