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quinta-feira, janeiro 08, 2015

Horizonte de Mim

Dedicado ao meu marido Vlademir, que me fez reaprender a gostar de mim.
Isso foi tudo o que aconteceu na minha cabeça, quando decidi te conhecer.

Dezembro de 2010....
Engraçado como a gente se acostuma com tudo, até com aquilo que não nos faz bem. Finais de ano sempre abrem minhas feridas e jogam sal em cima das minhas esperanças, porque todo ano eu escolho me renovar e por isso mesmo mato o que eu era para começar a ser o melhor que eu posso.
Voltar naquela praia e vislumbrar mais vez aquele belo horizonte, naquele local onde eu fui feliz por sete dias, esses que me roubaram anos de vida. Eu precisava daquele sol na pele, sentir minha cor morena brilhar com a alegria de se mostrar aos céus. Tinha necessidade de entrar naquele mar sentir a água salgada temperando meu corpo e levando para longe toda vergonha escondida na carne, todo o suor derramado em vão, bem como cada lágrima que agora parecia nunca ter feito parte de mim. Eu tinha necessidade de tudo aquilo, só não precisava mais de você, se é que um dia eu realmente precisei.
Alguns amores sofridos acabam na cama, outros com um até logo que teme o adeus, o meu acabava ali na praia com o gosto de algo que nunca existiu. Essa ideia que outrora me fizera chorar agora vinha como brisa aliviar o meu coração, era como se eu tivesse me livrado de uma prisão onde eu escolhi me prender.
- Acho que não importa o que aconteça, nós sempre vamos terminar juntos.
No dia em que ouvi isso de sua boca todo meu sentimento morreu, e neste instante deixei de te amar, só tua vaidade não percebeu...

Meia-noite, é Natal, recebo uma mensagem, a angustia me invade e a unica coisa que consigo pensar: - Espero que não seja ele.
E não era ele, meu coração palpitou, tentei responder, nada, sem créditos. Deitada dentro da barraca, olhando para o teto enquanto meu filho dormia pensava naquela mensagem, daquela pessoa que mal conhecia, me chamava de senhorita e me tratava como uma dama. Eu achava isso engraçado,estava tão remendada em mil pedaços , mas você não me via aos trapos, conseguia enxergar para além das minhas palavras e isso me fazia querer estar com você, me fazia querer te olhar nos olhos nem que fosse para agradecer todo o tempo perdido com alguém tão perfeitamente ferido.

 8 de Janeiro de 2011- Os dias se passaram, malas prontas é hora de partir e me despedir daquele belo lugar que um dia me fez sacrificar três anos da minha vida na esperança da repetição de sete dias que, ao teu lado, nunca chegaram. 
No caminho para casa olhava para o meu celular, relia aquela simples mensagem e tinha vontade de encontrar logo com o destinatário olhar em seus olhos e dizer: Obrigada por entrar na minha vida tão naturalmente.
Chegando em casa, liguei para você, marcado encontro para o dia seguinte, pensava em tudo que havia deixado e do qual eu consegui me livrar, agradecia por saber que estava pronta para recomeçar a viver minha vida do jeito que agora eu escolhia sem precisar pisar ou machucar ninguém, livre de alma e coração para lhe deixar entrar. Naquele noite depois de conversarmos dormi de exaustão, sonhei que sentia o toque da suas mãos nas minhas, te olhava nos olhos e com um belo sorriso dizia:

- Estou pronta, me ajuda a escrever uma história a quatro mão

terça-feira, janeiro 06, 2015

Sobre Espelhos Turvos

Serei eu essa imagem que o espelho reflete, ou sou algo além do que os meus olhos podem ver?
Como e duro se olhar e não se enxergar, todos os dias lutar contra demônios interiores que sempre lhe apontam o dedo no rosto e dizem:
- Você poderia ser melhor.
Esse dilema não pertence apenas a uma garota, pertence a todas, pois o fato de ser mulher lhe dá a obrigação de ser perfeita aos olhos dos outros, e isso e demasiadamente desumano.
Quando me olho no espelho não consigo gostar do que vejo, tenho tantos espectros de palavras mal ditas, que até hoje Mr pergunto:
- Será que as pessoas realmente não sabem o poder que tem suas palavras? Elas realmente não percebem que a brincadeira feita pode se tornar a cruz de uma vida.
Quando adolescente tinha vontade de fazer cosplay, mais dai um amigo brincalhão me disse: - Só se for de Pocahontas.
De fato, a cor da minha pele e um tanto diferente, sou uma mistura de etnias fantástica e, antes disso, nunca senti vergonha desse fato. Agora já adulta, começo aos poucos lutar contra isso e até ensaio iniciar esse hobby, mas a critica sempre volta leve em mim e eu sempre me vejo perdida para escolher o personagem para fazer.
Ainda jovem sempre ouvia piadas sobre o defeito que tenho em um dos joelhos, logo saias e shorts nunca fizeram parte da minha vida, até o dia em que, aos 19 anos enquanto eu desfilava alguém disse: - Pernas bonitas e teu andar acaba se tornando único. Passei a ser mais feminina, mas ainda hoje, aos 30, tenho ressalvas em mostrar as pernas e virar  só pernas em meio aos outros.
Sempre fui magra, e mesmo após duas gestações, tenho o corpo muito harmônico, mesmo assim de uns tempos para cá está difícil me olhar ni espelho e gostar do que vejo. Seria crise da idade? Não, a minha alto imagem tão distorcida foi construída ao longo de anos de opiniões negativas, e agora que a vida pessoal está tranquila olho no espelho e vejo todas essas feridas abertas com o tempo e a maldade das pessoas e penso: - Por que fizeram isso comigo?
Olho para a minha filha tão linda e desejo profundamente que ela não passe por isso e que viva num mundo de pessoas que pensam o quanto suas palavras podem machucar. Mas sei que não posso lutar as batalhas dela, e isso me faz abrir essas feridas, para aos poucos curar todas elas e poder enxergar no espelho um alguém que me agrade e seja forte suficiente para ensinar a minha pequena que não importa o quanto a vida e os outros possam te machucar, o importante  e manter sempre vivo dentro de si aquele pedaço que quase ninguém vê, que fica escondido bem no cantinho dos olhos  e guarda a beleza do que realmente somos.
A você, minha cara amiga, que sofre com essas feridas saiba que todas essas imagens do passado vão acabar e um dia ainda, juntas, poderemos mostrar s todos o que realmente se deve enxergar na aparência de uma mulher.