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quarta-feira, março 04, 2009

Quebra Nozes

Ontem estive a valsar debaixo da sua janela, com movimentos delicados atravessava o quintal de tua casa e tudo que eu ouvia era silêncio. Rodopiava, saltava o mais alto que podia, mais você não me ouvia e nem era para ouvir: Eu estava muda e concentrada somente em meus leves passos em teu tributo.
Dentro de mim toda a leveza da música mais linda que já ouvi ao teu lado, com a diferença que dessa vez não ouvia nada no escuro, dançava iluminada pela lua e sorria para cada brisa que vinha acariciar meu corpo. Já não tinha medo de ser tocada, todo medo foi embora com as lágrimas que lavaram minha alma no fim.
Inevitavelmente me lembrava de ti e de como era engraçado dançar acompanhando teus passos, parecias meu soldado de chumbo, desengonçado mais determinado a buscar pela mobilidade tão desejada. Teus pés eram pesados, tua força ainda mais. Em mim a certeza de que num belo dia tu acordarias e conseguiria planar e viajar pelos céus que tanto adimirava.
Terminada a minha musica imaginaria, sentei-me no chão e comecei a cantar, como era bom ouvir minha própria voz novamente enquanto eu dava descanso para os meus pés já a muito cansados e nada encantados. Não desejava ao meu lado a presença de ninguém,nem mesmo a tua que mesmo ali perto estavas longe, minha insegurança de menina nunca foi tão grande a ponto de aceitar pessoas que só olhassem para mim como uma metade. Sou inteira e profunda, sei bem o que mereço e muito mais o que desejo.
Ao final da canção olhei pro céu, ergui os braços e comecei a voar em direção a tua janela, pelo vidro pude mais uma vez te ver dormindo com aquele ar de menino bagunceiro, com os braços jogados para o alto e um sorriso colado no rosto. Teus sonhos estavam tão distantes, parecia que estavam sendo passados em outro idioma dentro de ti. Colei meus lábios no vidro e pela janela mandei-lhe um beijo. Ergui meus olhos para o céu e comecei a subir, sem me importar se um dia você vai ou não me alcaçar, apenas subo, pois já não me permito voltar.
Ao meu soldado de chumbo deixo minha habilidade de dançar e a determinação de quem não teme trilhar por caminhos obscuros que num futuro podem se transformar num porto mais seguro.

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