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sexta-feira, agosto 06, 2010

De Passagem

Fonte: (imagem retirada de http://momotte2stocks.deviantart.com/art/Place-stock-61-street-84524416, por @Mommote2stock , no deviantart)


Andar pelo beco durante o dia é como escolher trilhar pelo caminho das coisas simples, é fugir da escura noite que dá ao beco o toque de horror e fantasia precisos para se escrever uma bela história de terror.

- Porque será que Claudia só pensa em histórias melancólicas e noturnas? Será que ela ignora o fato de que a luz e mais assustadora que a escuridão, pois sempre nos mostra as coisas como elas realmente são... - Falava para si mesmo Davi, enquanto lia uns poucos papéis deixados em cima de sua escrivaninha.

Na noite em que Claudia foi embora, deixou para trás todos seus tolos rpapéis de rascunhos, onde ela jogava suas letras na esperança de que um dia ele pudesse entende-las. Mais o entendimento nunca aconteceu, eram muito diferentes para se reconhecerem nas entrelinhas. Claudia era noite e reflexão, Davi era concreto e simples como todos os detalhes do beco onde morava. Enquanto ela queriaver a lua, ele se contentava em olhar pela janela as trepadeiras da parede do vizinho. Se tentavam conversar na rua, ele sempre se perdia a contar ladrinhos. Achava o seu espaço tão simples e seguro que acabou por acreditar que tudo o que lhe cercava fazia parte integral de seu corpo. Tanto amava o seu beco e sua simples segurança, que acabou por se fechar para tudo que o rodeava, viu Claudia partir e não correu atrás, ela era escuro demais e ele só queria a bela luz simples que seus olhos gostavam tanto de enxergar.

Dez anos se passaram, de Cláudia restaram apenas as letras, tão negras e enigmáticas letras.

- Ela quis mudar meu beco, por isso teve que partir...

Quanto ao futuro de Davi? Os poucos e antigos moradores só sabem dizer, que um dia enquanto caminhava de cabeças baixa a contar ladrinhos, foi até o fim do beco, olhou para a parede de tijolos velhos dourados, sorriu e chamou por Cláudia. Como ela não respondeu, sentou no chão e se deixou morrer.

Um pintor que morava do outro lado da rua, achou o corpo, chamou a emergência e ficou a observar o trabalho dos homens que carregavam o corpo do finado senhor Davi. Meses depois vendeu um quadro intitulado "De Passagem", que mostrava um senhor que viveu por sua paisagem e se tornou um de seus eternos e seguros tijolos.

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