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domingo, maio 01, 2011

Confusões - Discussão sobre o 1º de Maio



" Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos,

ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais..."

Como Nossos Pais -Belchior


Esse final de semana foi marcado por discussões e reflexões politicas das quais participei, sendo uma mais formal e a outra informal. Primeiro no sabádo, dia que antecedeu o dia do trabalho, fui para uma palestra com três lideres sindicais de diferentes sindicatos. Apesar do meu cansaço ocasionado pelo estudos, foi uma manhã proveitosa, contudo um tanto desanimadora, porque naquele momento, ao ouvir os palestrantes com suas opiniões tão divergentes, pude notar algo que já vem me incomodando há algum tempo: o fato da crise ideológica da esquerda, que se remete o tempo inteiro ao passado, esquecendo que a luta não pode mais ser travada do jeito que foi antes, afinal, os tempos mudaram, os dias também. Sei que não podemos esquecer nunca das lutas travadas no passado, mas não podemos esquecer que temos todo um futuro e que ver os sindicatos tão partidários dá um certo desânimo, afinal, como podemos pensar em um sindicato unificador se a maioria se divide no terreno de suas próprias vaidades e não por seu ideal coletivo.

No domingo acordei já era hora do almoço, meu pai então chegava da missa dos trabalhadores da qual ele participa todos os anos na Igreja Matriz de Sâo Bernardo do Campo. Ele entrou no meu quarto dizendo o quanto a missa foi boa, só que ele não entende a parte dos shows, por isso sempre volta para casa após a celebração. Depois do rápido bate papo ele me entregou um folheto que me chamou muito atenção para uma séria reflexão:

"Por que realizamos nossa missa de 1º de Maio na região do ABC?

Para homenagear a memória dos lutadores de 1886 e lembrar que a classe trabalhadora deve sempre continuar lutando por seus direitos, até conquistar vida digna e plena...

Essa parte do folheto me fez relembrar não só do debate do dia anterior, mas antes da razão pela qual meu pai um dia participou de greves, se filiou a um partido e ainda hoje participa de várias discussões politicas na nossa cidade: Ele ainda tem a consciência do poder coletivo.
Vivemos em tempos tão áridos, onde nos descaracterizamos como classe, no mundo do trabalho somos individuos, temos tanto medo de ser somente mais um número que a todo momento precisamos nos fazer notar como seres individuais, depois nos juntamos em grupos para reclamar dos estranhos rumos que nossa politica toma.

A dita esquerda sonhou tanto em chegar ao poder, que uma vez no poder começou a entrar em crise existencial. Afinal, o que fazer quando conseguimos realizar um dos nossos grandes sonhos? O mais lógico seria começar a sonhar com algo novo para a vida não perder o sentindo, contudo, o que noto em meio as dicussões da esquerda hoje em dia é a velha confirmação filosófica de que não sabemos ser livres, por isso não sabemos lidar com nossas grandes conquistas, porque elas nos pedem grandes responsabilidades. Triste fim para uma visão politica na qual acredito com tanto empenho, mas não deixa de ser verdadeiro.

Outra crise politica é essa insegurança direitista que, acostumada com as vitórias sobre tantos utópicos, com a derrota presidencial em mais uma campanha começou a se descaracterizar. Mostrar visíveis desse fato são as crises de um dos partidos de maior representação nessa linha politica, o PSDB, que começou a fazer propagandas(veja o video postado no inicio do blog) que lembram muito as feitas por seus opostos. A criação de novos partidos que são ideologicamente vazios, bem como a falta de um papel claro sobre a função da direita atual e sobre o fato de quem, hoje, pode ser considerado de direita?

Nesse primeiro de maio, dia que relembra lutas tão importantes que foram históricamente travadas, creio que o meu maior desejo seria poder acordar num país que respeita a sua história, mas tem a consciência de que o mundo evolui, e que esses velhos idealistas que estão a frente de tantos sindicatos e partidos contraditórios deveriam apostar numa máxima: na formação politica de jovens representantes da direita e da esquerda. Afinal, política é vida, e como toda vida segue um ciclo, nenhum de vocês, enquanto indíviduo, vai permanecer para sempre a frente das representações sociais.

- A qual movimento você pertence mesmo? - me perguntaram.

- A nenhum, sou apenas uma estudante de educação.

Penso que deveria ter respondido agora de outra forma: Represento o futuro por algum tempo, até que meu filho possa crescer e tomar o meu lugar.

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