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quinta-feira, janeiro 14, 2010

Adeus, Zilda


Quando,em dezembro de 2005, eu descobri que estava grávida a primeira reação que tive foi a de chorar, a idéia de ser mãe não passava pela minha cabeça e eu vivia em meio a um romance onde eu tentava aproveitar os dias bons por saber que tudo teria um fim rápido. Minha família me apoiava mais tudo o que eu via quando olhava para a cara deles era decepção, no rosto do meu companheiro de então uma prisão, como eu iria enfrentar essa situação se tudo parecia tão confuso, como eu poderia ser mãe?

Foi nesse momento que tentei me lembrar das coisas que havia aprendido nas reuniões de formação de voluntários da Pastoral da criança, que eram mais do que lições de higiene básica e saúde, antes disso eram também lições de comportamento que mudavam a nossa visão do que era ter a responsabilidade de uma vida em mãos. Mesmo tendo uma gravidez conturbada, eu acabei ficando feliz com a situação, tanto que muitos julgaram que eu havia planejado quando tudo o que eu queria era transmitir para o meu filho a sensação de que ele era muito bem vindo, por isso, mesmo quando a vontade era desistir de dar vida ou chorar, eu mantinha a calma e conversava com ele, dizia sempre que ele era muito bem vindo e que eu estava esperando ansiosa por ele. Quando meu filho nasceu e olhei nos olhos dele eu tive a certeza de que seriamos agora dois no mundo e que eu não desistiria dele nem que acontecesse algo muito ruim em nossas vidas, prometi a mim desde aquele primeiro olhar que eu, mesmo inicialmente não querendo ou aceitando, seria mãe da melhor forma que pudesse ser. Graças a todas as lições que tive na Pastoral, não cometi nenhum erro muito grave com o meu filho e consegui criar uma criança saudável e feliz. Agora meu filho tem 3 anos e se tornou uma criança saudável e feliz, e mesmo que enfrentemos problemas, sei que juntos somos felizes e tenho em mim a certeza de que sempre seremos.

Quando fiquei sabendo da morte da Doutora Zilda Arns através do jornal não tive outra reação que não fosse a de chorar por tudo que ela, indiretamente, representou para mim quando eu soube que seria mãe. Certas pessoas como essa senhora deveriam ser eternas pela capacidade que elas possuem de mudar as vidas das pessoas mesmo ao longe. Demagogia a parte, pois de sua história e importância social todos sabem, é com pesar que escrevo e agradeço a quem, através da Pastoral da Criança, me ensinou que é possível gerar vida saudável e feliz mesmo quando a situação diz o contrário. Esteja onde estiver, obrigado por ter existido em minha vida, de ti guardo o sorriso terno que vi somente uma vez ao longe, mas que me ensinou a olhar nos olhos das crianças.

2 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

Comovente depoimento, mesmo não concordando com alguns aspectos da visão de Zilda Arns, posso dizer com certeza que ela é uma heroína no sentido exato da palavra, herói é aquele que dá sua vida pela comunidade, e esta mulher o soube ser, mesmo que não tivesse este propósito.

Nestes momentos temos que lembrar que todos somos irmãos na humanidade.

Acredito que você fez a escolha certa, depois que temos filhos nunca mais ficamos sozinhos, um dia ele te dará um neto, e ai você vai ver o que é felicidade.

Abraços fraternos,

Transpondo Fronteiras disse...

Realmente comovente teu post... nunca conheci a Dr Zilda e nunca me interessei pelo que ela pensava como pessoa, mas tbm tive a oportunidade de conhecer pessoas que se doam dia e noite nessa pastoral, pelo simples fato de amaar a vida de forma incondicional. Perdemos uma Dr, mas ganhamos um movimento imenso e incansavel pela vida!