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domingo, novembro 07, 2010

Sobre o Orgulho

Ituaçu- BAHIA
(Acervo Próprio)

Presa em meio a escrita de um projeto de pesquisa nem pude opinar sobre a lamentável estudante de direito que falou tão mau do povo nordestino após o nordeste eleger Dilma como a nossa próxima presidente.
Mesmo não podendo opinar, enquanto lia, fazia fichamentos e escrevia pensava no por que eu faço tudo isso?
Simples, minha vida não é só minha, me entrego ao trabalho assim como meu pai um dia se entregou fazendo seu melhor dentro de uma fábrica para garantir que seus filhos nunca vivessem as mesmas terríveis experiências dentro de uma mesma indústria metalurgica. Escrevo por minha mãe, que na quinta série abandonou os estudos porque uma professora gostava de lhe falar o quanto ela era incapaz. Mesmo assim, foi ela que sempre ensino seus filhos a acreditarem em si e nos seus sonhos, mas sempre com os pés no chão.
Estudo pela minha avó materna que se alfabetizou porque invadia as aulas que seu pai ministrava aos meninos filhos da elite, e também o faço por minha avó paterna que morreu sabendo apenas assinar o nome, mas que era dona de uma sabedoria magnifica, que só o povo que sofre e luta sabe ter na vida.
Quero avançar na vida pelo meu avô materno, que pagava pessoas para escrever cartas para minha avó demonstrando o seu amor e luta para lhe dar um futuro bom, também o faço pelo meu avô paterno, homem forte e sofrido que mesmo sabendo apenas poucas letras e operações simples soube criar seus filhos com valores que faltam a muitos ditos intelectuais.
Agora tento avançar também pelo meu filho, pedaço mais caro e bonito de mim, para que ele possa um dia sentir o mesmo orgulho e respeito que aprendi a ter por minha família nessa minha vida.

Acho que esqueci de mencionar, tirando minha mãe e meu filho, todos que fizeram com que eu me transforma-se no que sou hoje são nordestino, todos tão diferentes mais com algo em comum: a força de quem dá valor as pequenas coisas.
Em meu sangue levo uma herança de lutas , não um conjunto de bens materiais, afinal, viver do que eu não conquistei é fácil demais, tanto que até me sobra tempo para gastar com ofensas desnecessárias que não nos levam a nada, além de um minuto de fama e uma vida de exclusão.
Tenho orgulho de ser um pouco desse povo que não é uma raça, mas deve ser respeitada por toda sua força e por tudo que durante anos criou. Afinal, existiria um Paulista de sangue puro, sendo que na região sudeste não há cidade mais nordestina? E mesmo antes deles migrarem o que havia aqui eram tantos descendentes de europeus, na maior parte italianos, todos imigrantes com um pé em outro continente e outro nas fazendas e chãos de fábricas.
O ruim dessa história toda é ver que as pessoas continuam achando que não possuem uma história própria, e que se querem fazer parte da história, primeiro devem aparecer nas pesquisas do Google.



PS: Foto da Casa onde meu Pai nasceu e onde por longos anos, foi feliz com seus irmãos

3 comentários:

Marcia disse...

Ola...vc não me conhece meu nome é Marcia, Marcia Dutra, falo e friso meu sobrenome, pq como vc sei tudo q esta por tras dele: sonhos, lutas e sacrifícios. è com prazer q me apresento pelas ondas da internet: trabalhei apenas por alguns meses com seu irmão, mas apenas por esses meses tenho certeza q posso assinar embaixo deste teu belo texto! Com certeza pela convivência com o Eder tenho certeza q a família de vcs deve ser tudo o q vc escreve e muito mais! Um grande beijo, Marcia Dutra (me procura no Centro Cultura) ou me escreve dutramarcia@hotmail.com

Bah disse...

Casa bucólica, parece uma pintura de quadro.

Achei essa história de preconceito o pior. O nosso país é totalmente miscigenado e querer negar qualquer descendência, é negar a si mesmo. Mas não pense que é só com nordestinos ou negros. Já sofri preconceitos por ser descendente de japoneses e também lá fora, por ser brasileira...

Kisu!

Edson Bueno de Camargo disse...

Texto muito comovente, disse tudo e mais um pouco.

Lamento termos de nos debruçar ainda sobre este assunto, neste momentos me vem uma frase de uma pessoa que não era nenhum grande literato, e um figura polêmica pela sua exposição na mídia, o Pedro de Lara, o velho louco dizia "Há pessoas tão pobres que a única coisa que possuem é dinheiro".

Que se lixem, somos mais belos e ricos que eles.

Abração