Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Li este poema quando eu tinha 15 anos e desde então nunca mais o esqueci, porque ele é belo, ele é verdadeiro, ele é corajoso.
Aprendi com a vida e com as letras a ser forte, e neste momento da minha vida tão complexo e perturbador me apoio nestas palavras para não sucumbir ao senso comum e odiar o mundo. Meu corpo, meus ideais, minha alma e sentimentos são fortes e eu aguento o peso do mundo por saber que o que eu tenho não é o que eu mereço, simplesmente é um caminho que tenho que traçar para que um dia eu me orgulhe do que conquistei.
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