Foi com uma gota de angustia e com uma explosão de felicidade que abandonou aquele lar, aquele parceiro, aquela vida sem sentido e foi viver da maneira que achava correta. Agora era tempo de renovação e realização, faria tudo o que ao lado dele não fez, realizaria todos os sonhos antigos que foram abandonados, as coisas realmente seriam boas e a palavra de ordem seria crescimento.
Por muito tempo pensou assim, nada a abalou, até o dia em que o condicionamento falou mais alto, o medo começou a lhe incomodar, toda vez que se aproximava da realização de um novo sonho voltava para trás, fazia tudo dar errado, agia de maneira oposta ao seu pensamento, tudo isso por medo, por receio de que os outors percebecem que ela precisava urgentemente das coisas que um dia tivera.
Pensou que aquilo tudo era amor, deprimiu-se, sentiu que perdia mais uma vez pela péssima escolha que fez. Como pode abandonar toda sua segurança por dias melhores? Ela era irracional e agora estava perdida em seus atos e caminho.
Num dia nublado e frio, andava sozinha pelo parque. É bom andar num parque em dias frios quando se quer pensar ou ficar só, afinal, provavelmente poucas serão as pessoas a lhe incomodar e quando sentimos dor, somos terrivelmente egoistas. Caminhou por entre árvores amareladas olhando para o nada até ficar cansada, foi quando sentou num banco e cansada fechou os olhos para pensar melhor. Mal tinha fechado os olhos sentiu uma mão nos seus ombros, era uma mulher que pedia autorização para sentar ao seu lado. Um pouco desconfortável e rabujenta a moça se afastou um pouco dando lugar para mulher.
- Que belo dia, não? - disse a mulher
- Não vejo nada de belo em um dia frio como esse. - respondeu sem dar muita atenção
- Se acha que o dia está tão ruim, me diga porque veio ao parque?
- Porque estou me sentindo sozinha.
- E num parque vazio vai se sentir menos solitária?
- Não, mais pelo menos posso pensar e tenho as árvores para observar.
- Acha isso realmente coerente?
- Não, mais precisava sair.
- Qual é o seu problema?
- Por que lhe contaria?
- E por que não contaria?
A moça pensou e por fim falou:
- Estava cansada de viver a vida tal como estava fazendo, por isso deixei tudo o que tinha para trás e fui embora em busca do meu prórpio caminho, mas agora vejo que errei. nas noites frias já não tenho mais braços que me abracem, não tenho com quem discutir sobre como foi o dia, ou mesmo um alguém para quem eu possa escrever. Minha vida é toda vazio e meu destino é a solidão.
- Mais você era feliz com todas essas coisas?
- Não, por isso fugi.
A mulher que ouvira a história da moça parou e pensou por um tempo, depois pegounas mãos da moça, olhou bem para os olhos dela e disse:
- Por vezes nos acostumamos tanto com uma situação que mesmo tendo a consciência de que nada era bom para nós tememos deixar tudo para trás, tudo isso porque o tempo nos condiciona a aceitar, a achar que o normal é sofrer, isso porque mesmo no sofrimento encontramos consolo nos braços quentes de um alguém. Mas não desista de seus sonhos, segue em frente sem pensar no passado, sem se prender a idéia ilusória de que sempre vai errar. Todos nós sonhamos, mas poucos são os que realizam seus planos, justamente por terem em si esse medo primário. Tenha força e siga, mesmo em tempo ruim, mesmo com tudo contra você, não desista e vá.
A moça que permanecia de olhos baixos ao ouvir palavras tão belas de consolo olhou para a face da mulher e qual não foi a sua surpresa ao ver em sua frente seus próprios olhos. Aquela mulher não era ningué menos que ela mesma. De um impulso se afastou de si mesma e quando pensou em gritar... Acordou em seu quarto, com os olhos voltados para o espelho do armário.
Desde então nunca mais duvidou, passou a enfrentar a vida de frente como quem se orgulha da batalha sem esperar pela derrota.
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