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sexta-feira, julho 18, 2008

O Furto

Nunca antes havia experimentado cometer tal delito, nunca antes me deixei fascinar por ato tão corrupto. Mas aquela idéia, naquele dia me fez desejar: Quero possuir o que não posso.
Não que eu tenha problemas de caráter, é sempre bom ressaltar que minha integridade continua a mesma, sou um respeitado cidadão, cumpridor dos seus direitos e deveres. Alias, pra que tanta justificativa para um ato tão pequeno, era só um objeto qualquer, era só uma colher, que mal poderia haver?
Num rápido movimento, peguei a colher, coloquei em meu bolso e continuei a caminhar despreocupado pelos corredores do supermercado. Entre prateleiras e promoções, caminhei, como se o ato que eu acabara de cometer nunca tivesse ocorrido. Estava me sentindo diferente, estava me sentindo poderoso, como um criminoso de filme que nunca é pego no final.
O medo só foi tomar conta do meu ser novamente, quando avistei aquele sorriso amarelo e falso da caixa do supermercado.
Será que ela iria perceber? Será que eu sentiria o dedo gelado da acusação de furto na minha cara?
Esses pensamentos me fizeram estremecer, não poderia manchar a reputação de bom moço que cultivei por anos. Uma gota de suor escorreu pela minha face, mas foi um medo passageiro, que acabou quando a moça me deu a conta e com seu sorriso amarelo me desejou uma boa noite.
Naquele dia o sorvete teve outro sabor, um gosto de aventura misturado ao prazer de por um dia, por um simples dia, ser livre para possuir o que eu não podia ter,

Creio que a vida é assim, quando menos se espera você consegue possuir aquilo que sempre desejou, neste instante o sentimento que te invade é o de confusão, mas aos poucos a adrenalina vai cedendo espaço a razão, você então consegue sorrir e finalmente pode sentir outro sabor no simples exercício do viver.

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