Onde mora a memória do poeta? Quando ele se vai podemos encontra-lo em suas letras, perdida entre livros tua essência que sempre e tão bem me encantou. Entre livros numa biblioteca a certeza de que quando a saudade apertar naquele espaço eu sempre vou lhe encontrar.
Lembro do dia em que te conheci, tinha então quinze anos e toda energia do mundo, estava triste na porta de uma biblioteca ouvindo musica numa tristeza que mal cabia em mim. Vi você se aproximando e depois que passastes por mim fiz a seguinte obsevação:
- Esse pensa que é Fernando Pessoa, com esse chápeu preto ridiculamente grande. - ri com meu amigo e voltamos a ouvir musica.
Mas foi naquele sarau que, mesmo em meio a tantas poesias, escolhestes logo a minha para elogiar. Aquele ato mudou algo dentro de mim, me envergonhei de ter pensado mau de ti, e mesmo decidida a nunca mais escrever poesias, prometi que nunca deixaria de escrever.
Quantos anos se passaram, me vejo em meio a essa biblioteca, que pode não ser a mesma em que nos conhecemos, mas ela esta repleta de você. Decorado com tuas letras, com tuas fotos, tua presença esta no toque suave da flauta transversal que faz as lágrimas chegarem aos meus olhos. Mas a lembrança de ti é sempre boa, delicada e cheia de risadas. E naquele instante em que o pano desce e leio o seu nome na porta penso e tenho em mim a nítida certeza: Não podia existir melhor homenagem em sua memória.
Olho para o chão, minha filha pequena beija tua foto e aponta para o avô que ela sempre vai se lembrar, ergo os olhos e pela janela entram os últimos raios do sol, mais um belo por do sol na cidade de sua vida e coração, os raios iluminam teu nome na porta e uma felicidade aos poucos invade meu coração ainda triste por tua ausência, pois entre esses livros sinto tua presença e por esses caminhos mais uma vez a promessa de nunca parar de escrever, pois assim sempre estaremos juntos no meio de um sarau repleto de musica, poesia e palavras bonitas.
Obrigada por ter feito parte da história de minha vida.
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