Um ano havia se passado desde a última vez que entrou naquele espaço, ela não sabia o porquê tinha chegado até ali e mesmo assim continuou parada olhando fixamente para o portão de entrada do local. Suspirou profundamente, olhou para os próprios pés, depois para frente e resolveu entrar no local. O espaço era bonito, mesmo com chuva era belo, talvez a única coisa estranha na paisagem fosse a garota que caminhava sem guarda-chuva e sozinha. Quem iria notar figura tão solitária? Talvez somente o guarda que sozinho vigiava a água a cair no chão, mesmo assim não a questionou e a garota prosseguiu em sua missão.
Chegou ao local no qual por um ano inteiro não conseguia retornar, sentou-se mesmo na água, olhou ao redor e de repente: NADA...
- Como assim, nada? O que aconteceu comigo? Eu estava pronta para chorar, mas tudo o que eu sinto é nada?
Fechou os olhos para enxergar lá dentro algum vestígio de tudo, contudo nada acontecia, parecia que por fim tudo corria como a água que caia do céu em seu corpo.
- Quase chegar a algum lugar para mim nunca foi nada, deve ser por isso que tudo o que eu consigo sentir são os pingos de chuva em mim.
Retirou do bolso um papel onde havia escrito algumas palavras, leu suas letras, deu risada, dobrou o papel o colocou bem naquele canto, no meio da água, onde havia se sentado um ano atrás. Nele suas ultimas palavras direcionadas a ele que nunca vai ler ou mesmo saber o que ela lhe desejou, talvez tenha sido NADA, assim como nada foi a sua rasteira passagem em meio a vida dele, pois como tu, eu também fui um inseto.
Gritou sozinha novamente, mais dessa vez o grito não foi de dor, antes foi de alegria por saber que a partir de agora tudo seria nada e que toda dor que sentiu nunca mais iria penetrar em seu ser, pois ela tinha passado pela experiência do parto e da mutilação que é se desfazer de um ser que pertencia anteriormente somente a ela, não por ser parte de sua carne, antes por ser parte dos seus desejos personificados em uma imagem.
Levantou-se e começou a se despedir do local, sabendo que agora era hora de reescrever mais
uma trilha, mais um capitulo de sua vida sem presença nenhuma que fizesse ela sentir que era menos do que podia ser. Saiu do parque sabendo que naquele dia havia subiu mais um degrau rumo ao topo de sua vida e, por Deus, dessa vez sem sofrer, dessa vez, e pra sempre, sem você que agora está distante dela e de sua vida.
27/11/2009 Leticia Brito