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segunda-feira, dezembro 15, 2014

Ausência

Já disse isso mais de uma vez, mas parir é como ser mutilada, depois de horas de dor nos despedimos de uma parte tão bonita da gente que nunca mais vai nos pertencer. Ser mãe é um eterno aprender a perder e se orgulhar por isso.
Mesmo tendo essa consciência não deixo de sentir a falta que meu filho me faz quando não esta ao meu lado, um pouco do que sou fica de luto toda vez que preciso ficar longe dele. Contudo abro as portas para que ele sempre possa transitar por mundos diferentes, passando por experiências das quais eu não posso priva-lo, pois isso não seria amor, apenas o puro e sincero egoismo materno que algumas mães nunca conseguem superar e por isso temos a impressão de que alguns filhos nunca crescem.
Mas meu filho vai crescer, vai ser o melhor homem que ele puder, disso eu tenho certeza, pois é por isso que luto para que ele possa ser o que queira sem a marca da minha doce e singela arrogância materna de achar que eu sou o bastante para ele.
A única coisa que sempre peço e para que ele nunca sofra antes da hora de sofrer, pois não me iludo com uma vida sem sofrimento para os que amam, afinal, a vida é cheia de pedras e são as formas que escolhemos para superar elas que faz com que nos tornemos as pessoas que escolhemos ser. 
Essa ausência que sinto, com os olhos grudados ao relógio apenas simbolizam o grande amor e necessidade que tenho de estar ao lado do meu filho, dividindo momentos e a vida com ele, pois desde o dia em que seus pequenos olhos me olharam pela primeira vez, tive a nítida certeza que iria querer estar ao lado dele por toda minha vida. 
Logo essa ausência na verdade somente é a presença que nunca vai me abandonar, visto que és parte de mim.

Entre Livros


Em memória de Edson Bueno de Camargo

Onde mora a memória do poeta? Quando ele se vai podemos encontra-lo em suas letras, perdida entre livros tua essência que sempre e tão bem me encantou. Entre livros numa biblioteca a certeza de que quando a saudade apertar naquele espaço eu sempre vou lhe encontrar.
Lembro do dia em que te conheci, tinha então quinze anos e toda energia do mundo, estava triste na porta de uma biblioteca ouvindo musica numa tristeza que mal cabia em mim. Vi você se aproximando e depois que passastes por mim fiz a seguinte obsevação:
- Esse pensa que é Fernando Pessoa, com esse chápeu preto ridiculamente grande. - ri com meu amigo e voltamos a ouvir musica.
Mas foi naquele sarau que, mesmo em meio a tantas poesias, escolhestes logo a minha para elogiar. Aquele ato mudou algo dentro de mim, me envergonhei de ter pensado mau de ti, e mesmo decidida a nunca mais escrever poesias, prometi que nunca deixaria de escrever.

Quantos anos se passaram, me vejo em meio a essa biblioteca, que pode não ser a mesma em que nos conhecemos, mas ela esta repleta de você. Decorado com tuas letras, com tuas fotos, tua presença esta no toque suave da flauta transversal que faz as lágrimas chegarem aos meus olhos. Mas a lembrança de ti é sempre boa, delicada e cheia de risadas. E naquele instante em que o pano desce e leio o seu nome na porta penso e tenho em mim a nítida certeza: Não podia existir melhor homenagem em sua memória.
Olho para o chão, minha filha pequena beija tua foto e aponta para o avô que ela sempre vai se lembrar, ergo os olhos e pela janela entram os últimos raios do sol, mais um belo por do sol na cidade de sua vida e coração, os raios iluminam teu nome na porta e uma felicidade aos poucos invade meu coração ainda triste por tua ausência, pois entre esses livros sinto tua presença e por esses caminhos mais uma vez a promessa de nunca parar de escrever, pois assim sempre estaremos juntos no meio de um sarau repleto de musica, poesia e palavras bonitas.
Obrigada por ter feito parte da história de minha vida.