À meu companheiro Vlademir
Porque quando a vida
limita suas escolhas a única saída digna que se tem é lutar...
Corria desesperada em
meio a floresta, queria fugir para longe daquele lugar onde era tratada como
mera carne que satisfazia os desejos alheios. Ela não tinha mais identidade,
não tinha nome, apenas a missão de dançar e encantar seu senhor e a quem ele
quisesse lhe emprestar.
Fazia uma semana que
havia conseguido fugir daquele covil, utilizando como arma sua sensualidade,
seduziu um piloto e prometendo que seria sua conseguiu roubar sua nave e fugir
para longe.
- Não me orgulho de
ter tirado a vida dele tão facilmente, mas também não me arrependo de fazer
algo por mim, lembrando que eu também sou alguém.
Aquela altura, os
servos de seu senhor já estavam atrás dela, que acabou caindo naquele estranho
planeta da Orla Exterior, queria muito fugir, tinha apenas em sua mente o
desejo de sobrevivência e a vontade de voltar a pertencer a si mesma. Mas sua
força estava se esgotando, a corrida sem rumo fez com que suas pernas, já
cansadas, ficassem cheias de arranhões, o sangue escorria de suas feridas, as
pernas tremiam e ela insistia em não desistir daquela empreitada maluca,
afinal, se não lutasse seu único destino seria a morte, e mais do que nunca
tudo o que ela queria era viver para experimentar a sensação de ser livre.
Esbarrou em um galho
e caiu exausta ao chão, os guardas de seu senhor chegaram até ela, tudo o que
ela pode fazer foi fechar os olhos e esperar por sua execução.
- Ao menos morrerei
livre.
Foi então que ouviu o
tiro, um disparo por entre as árvores, um dos guardas caiu imediatamente ao
chão, o outro tentou avançar nela segurando-a pelos braços, ela se debatia e o
mordeu, levou um soco no estomago e caiu, ouviu mais um tirou, dois tiros
enquanto caia no chão. E, de repente, tudo se fez silêncio.
Quando acordou estava
dentro de uma caverna, seu corpo antes quase nu estava devidamente coberto por uma capa. Ficou
assustada quando ao limpar os olhos na tentativa de ver direito, viu um vulto caminhando
em sua direção. Era tão alto e forte que tudo que ela pode fazer foi esperar
pelo pior. Olhou a sua volta, viu um punhal que fora posto em seu lado, o pegou
nas mãos e gritou.
- Não se aproxime, ou
eu acabo com você, eu posso até morrer junto, mas te levarei comigo.
Só o que pode ouvir
foi uma risada alta, era como se ela tivesse contado uma piada. Mesmo se
sentindo dolorida, com as pernas tremulas ela levantou e continuou apontando o
punhal para a figura que caminhava ao seu encontrou. Ele então parou a uma
curta distância dela, tirou seu capacete e disse.
- Acalme-se, vocês
esta sem força, não conseguiria me ferir nem que tentasse muito. Ès tão forte
como um verdi’ka em treinamento, não conseguiria me fazer mal algum.
Mesmo assim ela
correu em sua direção e tentou ataca-lo.
-Não me ofenda,
conheço teu povo vendido, não vais me devolver por dinheiro nenhum aquele
monstro novamente, seu ordinário sem princípios, mercenário lacaio do inferno.
- Mais quem disse que
eu vou te vender? Essa não é a minha missão. Logo não tenho nada haver com
isso. Estava apenas concertando a minha nave para voltar para o meu planeta
quando resolvi te ajudar porque lhe achei interessante. Consegue compreender
que eu realmente só estou lhe ajudando ou já se tornou um animal como o seu
senhor?
Falando isso segurou rápido
em suas mãos, derrubou ela no chão imobilizando-a com cuidado de não feri-la,
tamanho era seu estado físico de desgaste. Aos poucos ela se acalmou, encostou
o rosto no peito do homem e começou a chorar. Ele sem saber o que fazer apenas
a apertou em seus braços enquanto acariciava seus cabelos.
Aos poucos ela foi se
acalmando, a sensação de estar nos braços de alguém que tentava lhe confortar
parecia estranha, não sentia aquela sensação desde o dia em que se separou de
sua mãe que a apertou forte nos braços enquanto a levavam embora, pois fora
vendida por seu pai para pagar uma divida de jogo. Desde então ela jurou que
nunca mais usaria seu nome visto que se envergonhava de saber que aquele
monstro era o seu pai.
Depois de algumas
horas nos braços do homem que diante da ação da mulher se manteve em um misto
de embaraço e encanto, ela se afastou envergonhada com sua atitude infantil. O
homem lhe sorriu um sorriso largo e disse:
- Sou Jurir, e qual
seria o seu nome?
- Eu não tenho nome.
- Como assim não tem
nome? Devem te chamar por algum nome, qual seria?
- Pouco importa, eu
sou uma escrava, só vivo para dançar e encantar os olhos alheios, não tenho
direito a um nome, sirvo apenas para dar prazer momentâneo.
- Mas nasceu escrava?
Antes disso nunca te chamaram por nenhum nome.
Ela pensou em sua
mãe, lembrou de seu passado e de cabeça baixa disse apenas:
- Brile
- Brile? Nome
interessante, mais um pouco pequeno.
- Tenho nojo do meu
outro nome, prefiro apenas esse que me trás alguma recordação e não acho que
preciso de outro.
- Entendo. Bom,
apresentações feitas, sugiro que você se cubra novamente, a noite esta chegando
e vai esfriar muito por aqui. Vou procurar algo para comermos. Não tenha medo,
comigo estará segura e vai demorar ainda alguns dias até que venham atrás de
você novamente.
Colocou o capacete e
saiu da caverna rapidamente, deixando-a para trás.
Ela ficou olhando na
direção em que ele se foi e pensando no que faria com a sua vida a partir
daquele momento. Lembrou-se de como aquele estranho havia resgatado ela tão
facilmente, se sentiu tão fraca, desejou ser como ele, ter a força dele, quem
sabe a vida não lhe seria mais leve. Pensou por tanto tempo que acabou
adormecendo novamente.
Acordou com os
primeiros raios de sol batendo em seu rosto, olhou em volta e notou que o homem
dormia ao seu lado, ficou sentada e observou o espaço por mais tempo, notou que
ele havia trago um pouco de comida e resolveu preparar uma boa refeição como
recompensa antes de ir embora.
Jurir acordou com um
cheiro tão bom, não sabia bem dizer o que era, só sabia que há muito tempo não
sentia tanta fome como que o aroma despertou nele. Foi para frente da entrada
da caverna e encontrou a moça mexendo no fogo. Era realmente uma mulher muito
bonita, suas pernas expostas chamavam muito atenção, tanto que ele sentiu o
rosto avermelhado ao perceber que olhava com desejo para ela
- Bom dia. – disse
ela com o sorriso.
- Bom dia. –
respondeu com a cabeça baixa
- Não sabia que existiam mandalorianos
tímidos.
- Minha mãe contava
histórias sobre um povo onde homens e mulheres eram todos guerreiros e iguais onde a honra e a
superação dos medos ajudava a formar um verdadeiro espírito guerreiro.
- Sua mãe conhecia
Mandalor?
- Não, apenas foi
apaixonada por um de seu povo, pena que quando o pai dela descobriu a vendeu
para o meu pai que a tomou como esposa tamanha era sua beleza, por isso não me
orgulho do meu nome.
- Entendo... Se o
passado incomoda que ele não exista mais a partir de agora.
- Concordo com você.
Vamos comer?
Os dois se sentaram
para comer e enquanto comiam o homem olhou mais uma vez para mulher ainda
seminua a sua frente e mais uma vez, envergonhado, lhe disse
- Você não gostaria
que eu lhe emprestasse roupas, não ficaram bonitas, mas lhe deixaram mais
confortável.
- Se tiver lhe
agradeceria, já estava começando a ficar com frio.
Depois de comerem ele
entrou na caverna e saiu com uma muda de roupas e deu nas mãos da mulher que
correu para dentro da caverna para se trocar. Já estava quase totalmente
vestida quando ouviu o som de luta vindo de fora. Jurir havia sido atacado por
muitos homens de seu senhor e o levavam para uma nave.
O medo tomou conta
dela, por um minuto sentiu vontade de ficar escondida para sempre naquela
caverna e deixar o homem a própria sorte,mas ela o havia envolvido nisso, ele a
ajudou sem precisar, logo, quem ela seria se o deixasse morrer. Sabia que não
possuía a força e nem o treinamento dele, mesmo assim optou por não deixar com
que ele morresse sozinho. Sua vida sempre valeu muito pouco, ao menos agora
poderia morrer com dignidade.
Pegou o punhal que o
homem tinha deixado ao seu lado e correu se escondendo em meio a mata com o
objetivo de resgatar o seu salvador. Perto de uma clareira, duas naves estavam
pousadas, uma ela já conhecia muito bem, era a que pertencia aos homens de seu
senhor, a outra, certamente deveria ser a de Jurir.
Ficou por algumas
horas tremendo e imaginando como poderia agir, até que viu dois homens saírem
da nave desconhecida com Jurir , o amarraram em uma árvore e entraram novamente para dentro da nave.
Nesse momento ela
tentou se aproximar e soltar Jurir, pena que ela não notou que um dos homens se
aproxima dela, quando sentiu alguém puxar seu braço teve tanta raiva que puxou
o punhal e cortou a mão do homem que caiu gritando. Mau o infeliz havia caído,
ela investiu o punhal três vezes contra seu peito.
O barulho fez com
que, tantos os homens que estavão na nave mandaloriana como três que estavam na
outra saíssem correndo na direção da floresta. Brile, correu na direção oposta
do corpo e subiu no alto da copa de uma árvore para se defender, as lagrimas
escorriam por Jurir, mas ela não temia sua morte, ao contrário sempre a
desejou.
Quando a localizaram
e iam atirar ela fechou os olhos esperando por seu fim, mas ao contrário do que
pensava não encontrou sua morte..
- Mas como?
- Um mandaloriano
nunca esta desarmado se tem sua armadura, além do mais eu só me deixei capturar
para roubar as peças que faltavam para a minha nave. Venha, desça dessa arvore
agora.
Pousou com a mulher
em frente aos cinco homens que o olhavam
com ar de espanto, sendo que um deles gritava de dor pelo tiro que havia levado
em sua mão. Olhou para mulher, estendeu o punhal novamente e disse:
- Agora vamos acabar
com tudo isso.
Lutar ao lado dele,
ver ele matando aqueles canalhas enquanto ela se defendia com o punhal, estar
ao lado dele, em meio aquele caos, se sentia forte como nunca. Era como se os
dois fizessem uma dança magnífica, era como se fizessem amor em meio ao caos.
E foi assim que Brile
descobriu que queria ser forte como aquele homem, que queria pertencer aquele
homem de todas as formas que deveriam pertencer um ao outro.
Passada a batalha,
com todos os homens mortos ela lhe falou:
- Me ensina a ser
como você? Sei que nunca vou ter o sangue de guerreira, mas não quero sentir
mais medo, quero viver esses momentos de batalha e caos que parecem que me
trouxeram sentido a vida. Me deixa ser sua?
Ele olhou bem em seus
olhos, pegou em suas mãos e disse:
Repita comigo:
- Mhi
solus tome.
- Mhi
solus tome.
- mhi solus dar'tome,
- mhi
solus dar'tome,
- mhi me'dinui an,
- mhi
me'dinui an,
- mhi
ba'juri verde.
- mhi ba'juri verde.
- O que isso quer dizer, Jurir?
- Que agora você é minha mulher, nos somos um só e te levarei
comigo para que possas aprender a minha cultura, conhecer meu clã e completar a
cerimônia de nossa união.
E foi assim que Brile se tornou uma Shev´la, uma das espiãs mais
fortes e frias do clã e uma das mais honradas guerreiras que sempre cumpria
suas missões e trazia consigo troféus para oferecer aos seus filhos enquanto
lhes contava histórias sobre suas missões.
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