A minha amiga Priscila Zanetti
Caminhava apresadamente pela rua com ar de quem estava atrasada demais para tentar admirar qualquer paisagem pelo caminho. Naquela manhã sentia como se estivesse com a vida vazia de sentindo, lembrando-se da hora em que se olhou no espelho e viu apenas a imagem vaga de um ser perdido em meio a uma antiga fotografia de tempos atrás. Sabia que não era mais a mesma, mas ao mesmo tempo sentia-se mau por não saber quem realmente agora era.
- Será que não sou mais que uma recordação?
Pensou cismando consigo mesma em busca de uma resposta pertinente, afinal, como todo ser humano desejava ser feliz, mas não sabia onde poderia ir para começar a buscar sua felicidade.
-Vou me dar ao luxo de ser infeliz, talvez isso me traga mais felicidade.
De fato, naquela manhã caminhando sozinha sentia que poderia se dar ao luxo de ser infeliz, afinal, felicidade é um conceito vendido em comerciais de margarina e ela era uma pessoa real demais para se distrair com tudo aquilo.
Esse louco pensamento fez com que uma paz surpreendentemente grande tomasse conta de todo o seu ser, e quando estava se aproximando do parque Trianon-Masp e começou a chover, ao contrário dos outros visitantes não correu, deixou que os pingos molhassem seu corpo, revelando aos poucos os contornos de se corpo que, molhado, parecia mais seu do que nunca. A sensualidade do momento não dividido, a liberdade de poder se sentir infeliz, fez com que num piscar de olhos borboletas voassem em seu estômago e a fizessem sentir um sentimento tão puro, tão intenso que podia se aproximar do que parecia ser a tão procurada felicidade.
- Então estar feliz é isso, apenas se permitir não buscar pela felicidade?
Sorriu para si mesma e continuou a caminhar por entre as árvores do parque, desde aquele momento com uma unica certeza em si : Para se conhecer, primeiro precisamos nos perder para num gesto simples podermos encontrar, os fragmentos dessa tal felicidade pela qual todos aprendemos a lutar.
Ser feliz é uma consequência, não uma solução.
Crescer é um caminho longo demais que pode ser percorrido ao longo de toda uma vida, com grandes chances de morrermos ainda criancinhas.