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quinta-feira, abril 21, 2011

Aceita




Não, eu não te peço, antes lhe ofereço. Então, por favor. aceita esse singelo ato de confiança.

Com um sorriso nos olhos estendeu as mãos para o rapaz oferecendo a ele uma flor, era uma dessas flores simples das quais a gente encontra no meio da rua ou em meio a qualquer mato crescido, contudo, naquele breve momento pareceu aos olhos do presenteado a flor mais rara e bela vista em toda a sua vida.

Com a flor nas mãos perguntou:

- E o que eu faço agora?

A garota, com um novo sorriso respondeu:

-Aceite, apenas.

Sorriu novamente com sinceridade nos olhos, beijo o moço e se foi. E naquele exato moneto ele descobriu o que era o amor.


Assim são os instantes mais significativos da nossa vida, terrivelmente simples. Nós que por medo, ou mesmo por um obscuro desejo de continuar vivendo em meio a solidão é que não conseguimos aproveitar as pequenas oferendas que a vida nos dá. Tentamos complicar o simples, deixamos de viver muitas coisas por medo, bem como é por ele que destruimos muitas de nossas mais belas conquistas.

Não, não queira viver sobre a ótica do medo, tenha paciência para aceitar que coisas boas acontecem até mesmo para quem se acostumou ao erro e ao sofrimento, só assim você estara pronto para aceitar os presentes que a vida tem para nos ofertar.


Se numa esquina alguém retribuir verdadeiramente o teu amor, aceita como quem acaba de receber a mais singela flor.

sexta-feira, abril 08, 2011

Educação em Luto

Como em todos os dias, hoje levantei ás 6h00 da manhã e me arrumei para levar o meu filho até a escola e enquanto vestia meu pequeno fiquei pensando nas mães das vitímas de Realengo que nunca mais vão se irritar com as crianças que nunca querem acordar, nunca mais caminharam até a porta da escola com seus filhos, ou até mesmo, nunca mais tomaram juntos o café da manhã apressado de quem se despede do filho enquanto eles entram na perua escolar.
Desde a decáda de 30, a imagem que a educação tenta nos vender é a de que sem educação não há futuro, pois somente atráves dela podemos mudar o rumo de nossas vidas. Mas, afinal, que educação estamos dando as nossas crianças e jovens que faz com que um caso tão barbáro ocorra em um país que até então nunca tinha vivenciado episódio tão tenebroso?
O jovem que cometeu tal ato insano sempre foi visto como um excelente aluno dentro da escola, talvez seja esse o primeiro erro do sistema, que ao se deparar com o dito "bom aluno" nunca presta atenção em suas reais necessidades, isso porque na educação ainda se acredita que o importante é desenvolver o lado cognitivo (saberes) deixando de lado tudo que possa parecer mais humano que o bom desempenho escolar.
Além disso as vítimas, em sua maioria, foram meninas, fato que não pode ser visto como casual e sim como premeditação, fazendo com que esse crime se transforma-se não apenas em uma fatalidade, antes acabou virando mais um crime contra a mulher, essa que lutou tanto para ter acesso a educação ao longo da história. Esse é o retrato de uma sociedade patriarcal e machista que faz com que meninas se transformem em mulheres cada dia mais cedo, que ensina as mesmas a criarem seus filhos homens dentro da lógica patriarcal e que marca a mulher com o eterno estigma do desejo pelo corpo feminino.
Sou solidária as lágrimas derramadas pela nossa presidenta Dilma Rousseff, que diante da fatalidade, em seu pronunciamente pediu por um minuto de silêncio e neste minuto deixou que as lágrimas tomassem conta de seus olhos. Isso ocorreu não somente pela sensibilidade feminina, mas antes porque ela, como um símbolo de vitória e conquista feminina, conseguiu ver o quão longe estamos de realmente nos livrar dessa herança patriarcal que faz com que a mulher se transforme em "coisa" não em um ser dotado de capacidade e inteligência para além da adiministração do lar e trato dos filhos. Sem querer levantar bandeiras partidárias, pois antes da figura me remeto a mulher que todos esquecem que existe para além da figura da autoridade de Dilma.
Não bastasse todos esses aspectos do crime, em meio as redes sociais o que mais houve foram afirmações preconceituosas vindas de pessoas que afirmavam que fatores religiosos influenciaram no atentado, alguns até cogitaram a hipótese do jovem ser adepto da religião muçulmana por causa das afirmações de alguns detalhes de sua carta suicida. Mas uma vez uma fatalidade foi utilizada para desencadear o preconceito velado de tantos, pois como poderia essa afirmação ser verdadeira quando a carta leva os nomes de Deus e Jesus? As pessoas tendem a aproveitar situações de crise para declarar seus preconceitos sem precedente.
A idéia do jovem certamente foi importada e inspirada no caso de COLUMBINE, contudo não é saudável globalizarmos também as paranóias e medos estrangeiros, afinal, nossa realidade é diferente e precisa ser analisada pela ótica da análise da sociedade brasileira e não do preconceito estrangeiro.
Outra afirmação que me deixou um tanto conturbada foi a de como o rapaz não tinha amigos e passava o tempo inteiro recluso em frente ao computador. Não podemos culpar a tecnologia e os meios de comunicação pela criação de tipicos sociopatas, antes temos que analisar o porque estamos deixando uma invenção que foi criada para ajudar o homem transformar as pessoas em máquinas que possuem duas vidas, uma no mundo real e outra nesse universo paralelo onde podemos, se desejarmos, nos transformar até mesmo em Deuses que ficam fatalmente marcados e chocados quando são atirados para viver em meio ao mundo real.
Crimes como o que ocorreu em Realengo me fazem sofrer como educadora, mãe e mulher que sou. Me fazem temer ao pensar no mundo que estamos criando para os nossos filhos e para as próximas gerações.
Para terminar esse texto deixo aqui um trecho do livro Educação e Emancipação, que relata um entrevista de um dos Filósofos da Escola de Frankfurt Theodor W. Adorno, que fala sobre a Educação após Auschwitz (campo de concentração Alemão). Como alemão e judeu fa uma reflexão sobre o que temos que fazer para evitar tal atrocidade, e mesmo para aqueles que não pertencem a área da educação cabe compartilhar tal reflexão que tem um forte apelo a todo e qualquer ser humano:

"...se as pessoas não fossem profundamente indiferentes em relação ao que acontece com todas as outras, excetuando o punhado com que mantêm vínculos estreitos e possivelmente por intermédio de alguns interesses concretos, então Auschwitzs não teria sido possível, as pessoas não o teriam aceito''. (ADORNO,p.134)

Em outras palavras, não é hora de apenas lamentar pelo o que aconteceu, antes é hora de lutarmos para que esse tipo de evento não aconteça nunca mais em nosso país.

domingo, abril 03, 2011

Bolsonaro no País da Hipocrisia



Era uma vez um jovem senhor de velhos costumes que vivia num pequeno planetinha chamado Barbárie666. Nesse pequeno planeta não existiam minorias, as pessoas eram todas brancas, magras, sorridentes e heterossexuais. Não havia corrupção, a família, tradição e a religião eram valores respeitados por todos que temiam a Deus e respeitavam sua Pátria acima de todas as coisas. Todas as tardes ao lado da sua família , o jovem senhor olhava opor do sol e via que tudo aquilo era bom.
Um dia, para seu desespero, enquanto o jovem senhor marchava com seu exército ele se distraiu enquanto observava um coelho que fumava um baseado, como bom capitão ele tentou pegar o coelho para aplicar a devida medida disciplinar, foi quando escorregou e caiu num buraco negro que o levou diretamente para um universo paralelo onde não havia apenas uma raça e sim raças que viviam juntas, homens andavam de mãos dadas com outros homens, mulheres não cuidavam mais dos seus maridos, os filhos não seguiam os sonhos de seus pais, antes construíam seus próprios caminhos. Não existia militares no poder, o que havia ali era a chamada democracia e para que tudo fosse mais insuportável uma mulher, veja só meu Deus, uma mulher estava no poder daquele imenso e tenebroso universo.
Tudo era assustador, o jovem senhor sentia que precisava escapar dali para voltar a viver feliz no seu mundo de perfeição e disciplina. Como ele era muito inteligente sabia que só conseguiria sair dali se fingisse viver em meio aquela gente tão insuportável e diferente, por isso ele resolveu fingir que trabalhava por eles e aos poucos ensinava aquele povo todo, através de seus discursos, o que era viver conforme as regras da tradição, justiça e família. Seu jeito de falar era tão perturbador e diferente que muitos começaram a admirá-lo, e foi assim que ,vendendo a imagem do que seria a perfeição, o jovem senhor se elegeu com 120 mil votos de um povo que, não querendo se declarar preconceituoso, adotava aquela figura como alivio de suas frustrações.
Tudo finalmente corria bem e o jovem senhor já podia avistar, ao longe, o velho buraco negro por onde havia entrado naquele mundo sombrio, mas quando ele pensou estar perto do fim algo inusitado aconteceu: Ele falou a verdade para aquele povo.
A partir daquele dia todos os que o apoiavam se esconderam, deixando que o jovem senhor ficasse preso para sempre em meio ao país da hipocrisia. Sem chances de voltar para o seu planetinha perfeito, o jovem senhor foi infeliz para sempre, vivendo preso em sua mente dentro das regras de um planeta que para ele nunca mais seria verdade.

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A todos aqueles que desprezam a conduta antiética e desumana de Jair Bolsonaro e a todos os que concederam a ele seus votos.