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sábado, julho 25, 2015

É POR ISSO, MEU AMIGO, QUE VOCÊ É MACHISTA

Por esses dias um amigo do meu marido perguntou a ele se ele era machista, meu marido disse que sim, mais não soube explicar para ele o porque da afirmação. Disse para mim: - O melhor seria você explicar para ele.
Lembrei desse diálogo ontem a noite enquanto eu passava por uma experiência nada agradável.
Voltando do trabalho e indo para casa dos meus pais passar o final de semana com eles e com meus filhos, corri para pegar o ultimo ônibus, eram 00h00 e tudo que eu desejava era descansar. Entrei no ônibus, paguei minha passagem e passei a catraca, assim que eu sentei o motorista começou a me xingar:
- Tá faltando R$00,05 centavos, se não tem dinheiro desce e procura um ônibus de R$3,50.
- Não por isso, Senhor, pegue esses R$10,00, me devolve meus R$3,50 e fica tudo certo, não tenho R$0,05 centavos.
Ele pega o dinheiro, cobra a passagem, mais não me devolve os R$3,50.
- Senhor, meus R$3,50.
- Já te dei seu troco lindinha.
- O troco de R$ 10,00 sim, mas o restante que eu lhe dei não.
- Já te dei seu troco. – repete alterado
- Beleza, eu só quero ir pra casa, se você precisa tanto, fica pra você.
Sento num banco e começo a ler meu livro. Um ponto antes de mim as poucas pessoas junto comigo descem, só eu no ônibus, eu e a mulher do motorista que viaja com ele e seu bebê na ultima viagem. Chega meu ponto, dou sinal, o ônibus não para. Dou sinal para descer no próximo ponto, o ônibus segue.
- Moço, eu vou descer.
Nenhuma resposta e o ônibus segue até o ponto final de ônibus, a essa altura eu já estou nervosa demais e me calo com medo do que pode me acontecer. Ele abre a porta olha pra trás e diz: 
- Agora anda lindinha.
Sem outro ônibus que pudesse me levar mais próximo da casa dos meus pais ando o equivalente a três quarteirões, no meio de um frio acompanhada da garoa. Coloco minha boina, abaixo a cabeça, me amaldiçoo por estar naquele dia de batom roxo, rezo para que não notem que sou uma mulher caminhando a noite e sozinha. 
Não, não tirei foto da placa, não me lembro da cara do motorista, do rosto da mulher dele e do bebê eu me lembro, porque ela não olhava em meus olhos, baixava a cabeça e continuava o seu caminho junto com sua família. Afinal, era só um pai de família, e se eu punir ele, o que vai ser daquele bebê? Dai eu te pergunto, meu caro amigo, o que seria de mim se algo tivesse acontecido? O que seria dos meus filhos? Será que se fosse meu marido, ou mesmo um outro amigo nosso que tem quase dois metros de altura isso teria acontecido? E mesmo que isso tivesse acontecido com um deles, quais seriam os riscos para a vida deles? Talvez um assalto, isso é passível de acontecer com qualquer pessoa. Mais e a violência ao seu corpo, o pré julgamento por ser uma mulher andando sozinha pela madrugada, claro que não deveria estar fazendo coisa boa, que mulher respeitável anda a essa hora sozinha e chorando na rua?
Sim, meu amigo, sinto em lhe dizer, você é machista, e um da pior espécie, porque tenta diminuir os pequenos abusos como se eles não fossem nada demais, se diz contra a violência, mas não entende que o feminismo não é querer ter mais direito do que outros, antes e ser vista como um ser humano que tem o direito de ir e vir e não ser ameaçado por isso, que não precisa ser julgado pela genitália.. 
Vou continuar a andar de ônibus, a trabalhar a noite e a viver a minha vida, porque por mais medo e por mais memórias ruins que um abuso possa me trazer, eu sou uma pessoa de luta e por lutar por meus direitos jamais vou me render e fazer o que esperam que uma mulher faça.