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quarta-feira, julho 30, 2008

Revivendo

Levantou da cama como se fosse outra pessoa, correu para o banheiro, pois andar naquela manhã seria impróprio. Tomou seu café com a alegria de quem faz a primeira refeição após um longo jejuar. Caminhou pela rua de chinelas para sentir o vento batendo em seus pés,soltou os cabelos para sentir-se bela como a muito tempo não se sentia.
Sua felicidade era brilhante e tinha o sabor de seu chocolate preferido, aquele que a tempos não comia. Andou de volta até sua casa e ao chegar lá ficou olhando-a como se aquele imóvel não lhe fosse familiar, caminhou até a porta e quando entrou em casa deu um grito, não foi um grito de espanto, mas um desses sons que a gente solta quando está explodindo de alegria. Naquele momento, sentiu a mesma sensação que a criança sente ao nascer: a alegria do desconhecido familiar.
Desde aquele dia, Natália passou a ser feliz, pois depois de anos lutando contra a anorexia, finalmente nascera para a vida, descobrindo que a real beleza se esconde nas pequenas coisas que conseguimos sentir.
Quanto ao espelho....
Esse passou a ter menos importância diante da vida e de suas possibilidades.

sexta-feira, julho 25, 2008

O Caso das Pipas

Era o tipo de sujeito que não se importava em ser nada além daquilo que esperavam. Nascido em uma família humilde que sonhava em ganhar o titulo de "classe média", mas em tempo de crise se contentavam em ter o que comer, mesmo sendo apenas arroz e feijão.
Mas a família não importava, muito menos o que acontecia ao seu redor, o mundo era muito grande para que Marcelo perdesse o tempo pensando em cada ponto dele. Tudo o que interessava para ele eram os pipas, azuis, verdes, com desenhos, rabiolas das mais diversas formas. Seu mundo era feito de longas olhadas para o céu, unico lugar onde encontrava beleza.
Passou pela escola, como uma sombra, um número, só aceitava aquela rotina, pois fora a unica exigência de sua mãe para com ele. Mesmo assim, quantas não foram as vezes em que o garoto perdera a aula para correr atrás de um sonho de outro que caia lá do céu em forma de pipa.
Chegou a idade adulta, tinha que trabalhar para comer e principalmente para conseguir comprar mais pipas. Aceitou um trabalho onde se trabalhava muito e ganhava pouco, porém, nos intervalos seu patrão deixa- o empinar suas pipas.
Entre uma lavagem de carro e outra, entre uma marmita fria e um pedaço de pão dormido, Marcelo levava a vida contentando-se em contemplar a dança das pipas que flutuavam lá no céu.
Um dia, enquanto Marcelo preparava sua pipa para mais um vôo, ocorreu o fato que agora foi lhes contar. Em um olhar rápido avistou uma bela pipa que caia sem dono para lhe amparar, ela era vermelha, de um vermelho tão intenso que não poderia ser desperciçado entre os carros. Quando ele imaginou o triste fim daquela pipa, seu coração se arrebentou em mil pedaços e ele foi tomado pela subta vontade de salva-la. Em movimentos rápidos se pós a correr entre os carros, desviando de uns, sendo xingado por outros motoristas, pouco importava, ele suportava qualquer coisa, menos ver uma pipa ser destruida. Em um pulo rápido, o moço apanhou o objeto, sorriu para a pipa que repousava em suas mãos e depois nada...
Mais tarde, o motorista que estava ao celular, tentava se explicar para a policia, enquanto removiam o corpo do rapaz do meio da rua, os paramédicos olharam para um bazar que ficava do outro lado da rua e leram na placa: PROMOÇÃO, PIPAS POR APENAS R$0,50 CENTAVOS.

quinta-feira, julho 24, 2008

Três ao Luar


Eram uma familia incomum, mais eram. A noite, todas as suas diferenças, dificuldades e distâncias não existiam. Apenas a lua brilhava no céu prateada entrando pela janela do quarto iluminando seus corpos. Naquele momento nada diziam, nem se mexiam, apenas olhavam a lua e em coro pensavam: A FELICIDADE NOS ESPERA DO OUTRO LADO.

Paciênica

Cansaço....
Minhas pernas não me sustentam mais
O desespero tomou conta de meu corpo
E tudo que eu preciso é descansar

Será que você vai entender
Se numa noite dessas eu gritar:
- Paciência, eu já cansei de esperar?

sexta-feira, julho 18, 2008

O Furto

Nunca antes havia experimentado cometer tal delito, nunca antes me deixei fascinar por ato tão corrupto. Mas aquela idéia, naquele dia me fez desejar: Quero possuir o que não posso.
Não que eu tenha problemas de caráter, é sempre bom ressaltar que minha integridade continua a mesma, sou um respeitado cidadão, cumpridor dos seus direitos e deveres. Alias, pra que tanta justificativa para um ato tão pequeno, era só um objeto qualquer, era só uma colher, que mal poderia haver?
Num rápido movimento, peguei a colher, coloquei em meu bolso e continuei a caminhar despreocupado pelos corredores do supermercado. Entre prateleiras e promoções, caminhei, como se o ato que eu acabara de cometer nunca tivesse ocorrido. Estava me sentindo diferente, estava me sentindo poderoso, como um criminoso de filme que nunca é pego no final.
O medo só foi tomar conta do meu ser novamente, quando avistei aquele sorriso amarelo e falso da caixa do supermercado.
Será que ela iria perceber? Será que eu sentiria o dedo gelado da acusação de furto na minha cara?
Esses pensamentos me fizeram estremecer, não poderia manchar a reputação de bom moço que cultivei por anos. Uma gota de suor escorreu pela minha face, mas foi um medo passageiro, que acabou quando a moça me deu a conta e com seu sorriso amarelo me desejou uma boa noite.
Naquele dia o sorvete teve outro sabor, um gosto de aventura misturado ao prazer de por um dia, por um simples dia, ser livre para possuir o que eu não podia ter,

Creio que a vida é assim, quando menos se espera você consegue possuir aquilo que sempre desejou, neste instante o sentimento que te invade é o de confusão, mas aos poucos a adrenalina vai cedendo espaço a razão, você então consegue sorrir e finalmente pode sentir outro sabor no simples exercício do viver.